O Ano Internacional do Turismo Sustentável para o Desenvolvimento quer promover uma melhor compreensão entre os povos e contribuir para fortalecer a paz no mundo. Perante esta oportunidade de fazer avançar a contribuição do sector do turismo para as novas metas de sustentabilidade da Agenda 2030, Portugal está bem posicionado, com vários destinos reconhecidos como sustentáveis. E pode agora aproveitar o dinamismo do IY2017 para fazer crescer este segmento do sector
POR GABRIELA COSTA

“Com mais de mil milhões de turistas internacionais em deslocação pelo mundo a cada ano, o turismo tornou-se numa força poderosa e transformadora, que está genuinamente a fazer a diferença na vida de milhões de pessoas. O [seu] potencial para o desenvolvimento sustentável é considerável. Enquanto um dos sectores líderes mundiais a nível de emprego, o turismo fornece oportunidades de subsistência importantes, ajudando a mitigar a pobreza e a acelerar o desenvolvimento sustentável” – Ban Ki-Moon, Secretário-geral das Nações Unidas, Mensagem para o Dia Mundial do Turismo 2015

O Ano Internacional do Turismo Sustentável para o Desenvolvimento será celebrado em 2017, em reconhecimento da importância do turismo internacional e, em particular, da designação de um ano internacional para promover “uma melhor compreensão entre os povos em todo o mundo, levando a uma maior consciencialização sobre o património herdado pelas diversas civilizações”. E fomentar assim uma “melhor apreciação dos valores inerentes às diferentes culturas, contribuindo para o fortalecimento da paz no mundo”.

A iniciativa será liderada pela Organização Mundial do Turismo (OMT), que considera a declaração da ONU “uma oportunidade única para fazer avançar a contribuição do sector do turismo para a sustentabilidade – económica, social e ambiental – aumentando a consciência sobre um sector que é frequentemente subestimado”. O secretário-geral da agência das Nações Unidas, Taleb Rifai, expressou a sua “grande expectativa em prosseguir com a organização e implementação do Ano Internacional, em colaboração com governos, organizações relevantes do sistema das Nações Unidas e outras organizações internacionais e regionais”.

A decisão de declarar o próximo ano como International Year of Sustainable Tourism for Development (IYSTD), adoptado pela Assembleia Geral das Nações Unidas no final de 2015, surgiu num contexto particularmente importante, depois de a comunidade internacional ter adoptado a nova Agenda 2030 e os Objectivos de Desenvolvimento Sustentável (ODS), aprovados pela Assembleia Geral da ONU no anterior mês de Setembro.

[quote_center]O IY2017 visa apoiar mudanças nas políticas, práticas de negócios e comportamentos do consumidor, projectando um sector capaz de contribuir para o desenvolvimento[/quote_center]

O turismo consta como uma meta em três dos 17 objectivos globais da ONU – Objectivo 8: promover crescimento económico sustentável e inclusivo, emprego pleno e produtivo e trabalho decente para todos; Objectivo 12: assegurar padrões de produção e de consumo sustentáveis; e Objectivo 14: conservação e uso sustentável dos oceanos, dos mares e dos recursos marinhos.

De referir que já em 2012 os líderes globais que participaram na Conferência das Nações Unidas sobre Desenvolvimento Sustentável (Rio+20) reconheceram que “um turismo bem concebido e bem gerido” pode contribuir para o desenvolvimento sustentável, para a criação de empregos e para o comércio.

Agora, o Ano Internacional do Turismo Sustentável para o Desenvolvimento quer tornar o turismo num “catalisador para uma mudança positiva” em termos de sustentabilidade, mobilizando “todas as partes interessadas a trabalhar em conjunto” para sensibilizar os decisores dos sectores público e privado sobre a contribuição do turismo sustentável para o desenvolvimento.

No contexto da referida agenda de desenvolvimento sustentável, o IY2017 visa apoiar mudanças nas políticas, práticas de negócios e comportamentos do consumidor no sentido de projectar um sector do turismo mais sustentável e capaz de contribuir para o desenvolvimento. Este Ano Internacional irá promover o papel do turismo em cinco áreas-chave: crescimento económico inclusivo e sustentável; inclusão social, emprego e redução da pobreza; eficiência dos recursos, protecção ambiental e alterações climáticas; valores culturais, diversidade e património; e compreensão mútua, paz e segurança.

© Green Destinations / Mackenzie Delta, Canadá
© Green Destinations / Mackenzie Delta, Canadá

O potencial contra os desafios globais

Em 2015, quase 1,2 mil milhões de pessoas viajaram pelo mundo em busca de experiências turísticas em destinos próximos ou longínquos, com paisagens mais ou menos paradisíacas, e estadias com nenhum ou muito luxo. A OMT estima que o número de turistas em deslocação irá alcançar os 1,8 mil milhões, em 2030.

O turismo é hoje um dos sectores da economia que mais crescem internacionalmente, sendo responsável por 10% do PIB mundial, 7% das exportações e um em cada onze empregos no mundo. Mas, num planeta cada vez mais desafiado pela convivência com questões graves que impedem o desenvolvimento sustentável, como as alterações climáticas, o esgotamento de recursos naturais, a pobreza e a fome, o turismo actua como uma causa mas também pode actuar como uma potencial solução.

[quote_center]O turismo consta como uma meta em três dos 17 ODS[/quote_center]

Minimizando e compensando os impactos ambientais negativos que gera, ao mesmo tempo que encontra formas de contribuir para o bem-estar das comunidades, a protecção do ambiente e a sustentabilidade económica, todo o sector pode “considerar plenamente os seus actuais e futuros impactos económicos, sociais e ambientais, abordando as necessidades dos turistas, da indústria, do meio ambiente e das comunidades locais”, como prevê a definição de turismo sustentável da OMT.

Dos decisores políticos e económicos aos empresários do sector, especialistas, ONG e outras organizações sociais, turistas e viajantes, todos podem valorizar o turismo sustentável e ajudar a colocá-lo na agenda do sector turístico.

Na senda do reconhecimento deste sector como um caminho para o desenvolvimento sustentável, em Janeiro de 2015 a resolução da ONU “Promoção do Turismo Sustentável para Erradicação da Pobreza e Protecção Ambiental” reconheceu o turismo sustentável como ferramenta estratégica para a redução da pobreza, a protecção da biodiversidade e o desenvolvimento das comunidades. No mesmo ano em que as Nações Unidas declararam 2017 como o Ano do Turismo Sustentável para o Desenvolvimento.

© Green Destinations / Fajã-dos-Cubres, Açores
© Green Destinations / Fajã-dos-Cubres, Açores

Portugal nos tops dos destinos sustentáveis

Os destinos turísticos portugueses estão a acompanhar a tendência internacional e já dão cartas ao nível da sustentabilidade. Açores, Sintra, Lagos, Região Oeste, Cascais e Parque Nacional de Peneda-Gerês são as seis regiões nacionais que constam na lista do Top 100 dos destinos mais sustentáveis do mundo, divulgada no final de Setembro, na conferência Global Green Destinations Day que se realizou este ano em Ljubliana, a cidade eslovena Capital Verde da Europa 2016 (depois de Bristol em 2015 e Copenhaga em 2014).

Na conferência, onde a organização global para o turismo sustentável Green Destinations distingue as cidades mais ecológicas a nível mundial, Portugal ficou bem representado: apenas a Croácia e a Holanda tiveram mais presenças no Top 100 do que nosso país, cada uma com oito destinos nomeados. Já em 2014 seis destinos portugueses foram premiados neste ranking internacional de turismo sustentável.

[quote_center]A ONU reconheceu o turismo sustentável como ferramenta estratégica para a redução da pobreza, a protecção da biodiversidade e o desenvolvimento das comunidades[/quote_center]

Assente em 15 critérios, o Top 100 dos destinos mais sustentáveis do mundo recolhe informações sobre o local candidato e os esforços desenvolvidos com o objectivo de manter a sustentabilidade em benefício dos visitantes, dos residentes e do ambiente. Na avaliação dos melhores, são consideradas questões como a protecção da fauna e da flora, o envolvimento das populações no desenvolvimento do turismo e a valorização de produtos locais. Os Açores foram novamente escolhidos como um dos 100 destinos turísticos mais ecológicos e naturais do planeta.

Ljubliana, Capital Verde da Europa 2016
Ljubliana, Capital Verde da Europa 2016

A distinção valoriza “o trabalho realizado no arquipélago no domínio do turismo de natureza, incluindo o geoturismo, produto turístico de excelência da Região Autónoma dos Açores e que constitui, simultaneamente, um dos principais pilares dos Geoparques Mundiais da UNESCO”, que estas ilhas portuguesas integram. Em comunicado, o Governo Regional do Açores diz que “este prestigiado galardão internacional vem reforçar a garantia da qualidade dos Açores enquanto destino de férias, reforçando o [seu] posicionamento como destino de natureza, com práticas de turismo responsável e sustentável”.

A qualidade da candidatura dos Açores, elaborada pelo Geoparque Açores em colaboração com o Turismo dos Açores, foi considerada “um exemplo pelas suas práticas ambientais e pela forma como harmoniza a relação entre o homem e a natureza’”, a exemplo do que já tinha acontecido em 2014.

[quote_center]Seis destinos sustentáveis em Portugal foram distinguidos internacionalmente[/quote_center]

Portugal tem um enorme potencial turístico e está bem posicionado entre os esforços efectuados pelos países para acolherem destinos sustentáveis e incentivarem as boas práticas de sustentabilidade económica e ambiental do turismo responsável. Pode agora aproveitar o dinamismo, em 2017, do ‘Ano Internacional de Turismo Sustentável para o Desenvolvimento’ para fazer crescer este segmento do sector, com benefícios para todos: para o País e para os portugueses mas também para os muitos turistas internacionais que visitam o país; para o desenvolvimento local, a economia nacional e o PIB, mas também para o ambiente e a biodiversidade dos muitos destinos de excelência que tem.