Multiplicam-se as iniciativas que procuram promover uma adopção mais sistémica da análise e avaliação do impacto social. E ainda bem, porque todas fazem falta. Embora os conceitos sejam conhecidos, a sua aplicação prática levanta desafios e dificuldades. Para ultrapassá-los, faz falta mais e melhor informação e formação e, sobretudo, mais intercâmbio de aprendizagens e cooperação entre organizações e profissionais que trabalham em torno do desta temática
POR GRUPO DE IMPACTO PORTUGAL

O impacto está na ordem do dia e, especialmente, a sua avaliação. Mas convém dizer, antes de mais, que o mesmo não se limita às tarefas de monitorização e avaliação. Inclui-as, mas vai para além delas. A prática de impacto corresponde, na verdade, a um ciclo de actividades que começa no planeamento da mudança que se pretende gerar e das acções necessárias para o alcançar, e inclui a recolha de informação, a avaliação, a comunicação e a aprendizagem com o processo.

Acima de tudo, o que é importante distinguir aqui é entre a acção que se realiza no dia-a-dia e a mudança mais abrangente que esta produz, que é, sem dúvida, mais relevante. Este enfoque requer que as organizações se centrem conscientemente no seu impacto, orientando nesse sentido toda a sua acção e forma de actuar. Mas embora esta pareça uma ideia óbvia, a vida real de muitas organizações está longe de abordagens mais holísticas e de práticas intencionais de aprendizagem organizacional e de realinhamento constante em torno de metas para o impacto.

Rosa Matos (Stone Soup Consulting) e Tiago Seixas (CORE), pelo Grupo de Impacto Portugal
Rosa Matos (Stone Soup Consulting) e Tiago Seixas (CORE), pelo Grupo de Impacto Portugal

Foi a pensar principalmente na necessidade de ajudar as organizações sem fins lucrativos e as empresas, através das suas iniciativas de responsabilidade social, a alcançarem uma compreensão realista e adequada das boas práticas no que a esta temática específica diz respeito, que o Grupo de Impacto Portugal se associou ao esforço de capacitação do Inspiring Impact, do Reino Unido, traduzindo e disponibilizando o “Código de Boas Práticas de Impacto” em Português*.

Este Código de Boas Práticas oferece directrizes gerais e consensuais para um enfoque no impacto. Estabelece um ciclo de prática de impacto muito simples, constituído por quatro áreas principais de actividade – planear, fazer, avaliar, rever -, propondo ainda oito princípios gerais que devem ser seguidos: (1) assumir a responsabilidade pelo impacto e incentivar outros a fazer o mesmo, (1) concentrar-se no propósito próprio, (3) envolver outras pessoas na prática de impacto, (4) aplicar métodos e recursos proporcionais e adequados, (5) considerar todo o espectro da mudança que realmente se produz, (6) ser honesto e aberto, (7) estar disposto a mudar e a agir sobre o que se descobrir e (8), partilhar activamente os planos de impacto, métodos, resultados e aprendizagens.

O Código propõe a aplicação destes oito princípios em cada fase da acção, discutindo a prática de impacto com os stakeholders internos e externos. Acrescenta ainda o princípio adicional de equidade – assegurando representação, voz e igualdade de tratamento para todos os sectores da comunidade.

As orientações do Código de Boas Práticas de Impacto são realmente muito amplas e requerem um esforço para serem levadas à prática pelas organizações, mas acreditamos que poderão ajudar a assegurar que planeamos, monitorizamos e aprendemos com o nosso impacto ao aplicar princípios especialmente fundamentais para o sector da economia social. Este Código poderá ainda ajudar a manter o foco, ao aplicar práticas de impacto num sector que se centra nas pessoas, é dominado pela incerteza e está em permanente mudança.

Muitos líderes de organizações da economia social, em particular, debatem-se com questões estratégicas sobre o caminho que as suas organizações traçarão nos próximos anos, o que deveriam fazer ou deixar de fazer com os seus recursos limitados, com quem deveriam trabalhar, e como deveriam evoluir. Planear e compreender o impacto é uma parte importante da resposta a estas perguntas.

Caberá aos líderes das organizações assumir a aposta e compromisso na incorporação de boas práticas de impacto nas suas organizações, para que cada vez mais actores se empenhem em fazer mais e melhor o bem que fazem.

* A tradução para Português foi realizada pelo Grupo de Impacto Portugal, que reúne atores chave de diferentes setores de atividade com o objetivo de apoiar o desenvolvimento da agenda de impacto social em Portugal. O Grupo de Impacto Portugal inclui membros de organizações como ADENORMAÁguas de PortugalAssociação Construir sobre a RochaCOREEthicalFundação Calouste GulbenkianSector 3SustentareOIKOS e WACT, bem como os membros do grupo coordenador – Stone Soup ConsultingFundação EDP  e Operação Nariz Vermelho, e profissionais como Mariana Branco.

NOTA: O “Código de Boas Práticas de Impacto“ pode ser descarregado aqui