De um modo geral, a população mundial considera-se mais feliz e optimista que há um ano. Esta é a principal conclusão de um estudo sobre o grau de felicidade global, elaborado pela WIN/Gallup International, uma associação internacional especializada em estudos de mercado e sondagens. Embora a “medo”, os portugueses seguem esta tendência do aumento dos níveis de felicidade, face aos resultados do estudo realizado para o período de 2014
POR
MÁRIA POMBO

Pela 38ª vez, a WIN/Gallup International, especializada em estudos de mercado a nível internacional, analisou as expectativas, os pontos de vista e as opiniões sobre o bem-estar e a felicidade de cidadãos de 65 países dos diversos continentes. O estudo foi realizado no último trimestre de 2014 e os resultados foram recentemente divulgados.

É ainda reduzida (42%) a percentagem de população mundial que, no final de 2014, acreditava na prosperidade económica do novo ano. No entanto, este dado não prejudicou o grau de felicidade percepcionada, a qual foi manifestada por 70% da população (mais 10% do que no ano anterior). Dos mais de 64 mil inquiridos, apenas 6% consideraram ser infelizes (metade do que no ano transacto).

África é o continente mais feliz do mundo, com 83% dos respondentes a mostrarem-se satisfeitos com as suas vidas, mas o continente asiático não fica muito distante, registando 77% da população que se considera feliz. Todavia, com 93%, são os habitantes das Ilhas Fiji, situadas na Oceânia, a leste da Austrália, os mais felizes do mundo. O Iraque é a excepção à felicidade demonstrada pelo continente asiático, tendo em conta que foi considerado o menos feliz, com apenas 31% dos inquiridos a revelarem-se satisfeitos com as suas vidas.

[pull_quote_left]Habitantes das ilhas Fiji são os mais felizes, iraquianos os mais infelizes[/pull_quote_left]

Esta situação não é, aliás, surpreendente, se olharmos ao facto de se tratar de um país que ainda não se restabeleceu das constantes e dolorosas guerras de que tem sido alvo; adicionalmente, esta insatisfação geral pode dever-se aos confrontos entre correntes religiosas muçulmanas (sunitas e xiitas), e à escalada de violência atroz perpetrada pelo autodenominado Estado Islâmico (EI), a corrente radical jihadista que opera no território.

Atendendo ao grau de optimismo para 2015, existe, também, uma ligeira subida relativamente aos resultados apurados no estudo do ano anterior. África e Ásia continuam a liderar a tabela e a ser os continentes mais optimistas do mundo. A população nigeriana confirma a tendência do continente africano, onde se registam 85% de inquiridos que acreditam que 2015 será melhor; em contraciclo está a população do Líbano, país também situado no continente asiático, a qual foi considerada a mais pessimista, com apenas 26% dos inquiridos a mostrarem-se confiantes relativamente ao futuro, e cerca do dobro (52%) a acreditar que 2015 será um ano ainda pior que o anterior.

Europa infeliz e América “more or less”

22012015_OptimismoEmTemposDeColeraA Europa revelou ser o continente mais infeliz e pessimista do mundo. Da Europa Ocidental, apenas 12% dos cidadãos acreditavam na prosperidade do ano que recentemente começou, sendo que 44% revelaram crer que este será igual a 2014 e 40% manifestaram a sua preocupação face a um provável período difícil de ultrapassar. Na mesma região, o grau de satisfação com a vida é de 11%, mesmo ao lado da Oceânia (com 14%) e dos países do Médio Oriente e do Norte de África (com 13%), os quais registam, igualmente, baixos níveis de felicidade.

Para reforçar o grau de insatisfação da Europa, o estudo em causa revela que seis das 10 nações mais infelizes do mundo estão situadas no Velho Continente: Itália, França, Roménia, Bulgária, Letónia e Grécia. Relativamente às economias ocidentais, são igualmente europeias aquelas que registam os mais elevados níveis de pessimismo: mais de metade das populações de França, Sérvia, Grécia e Bélgica considerou que 2015 será um ano de grandes dificuldades económicas.

A Finlândia é o país europeu onde se registam níveis mais elevados de felicidade, com 80% de cidadãos a considerarem-se “de bem com a vida” que têm. Por oposição, e muito possivelmente motivados pelas dificuldades económicas, os gregos são os que mais infelizes se sentem: uma em cada quatro pessoas inquiridas assume não gostar da vida que tem.

[pull_quote_left]África é o continente mais feliz do mundo[/pull_quote_left]

Foi visível a “timidez” dos cidadãos americanos relativamente à prosperidade económica que 2015 poderá trazer. Pode dizer-se que este foi o continente mais neutro, no que diz respeito às questões colocadas pelo estudo, considerando que não se destacou nem pelos melhores, nem pelos piores motivos em nenhuma questão. Foram 67% os cidadãos americanos que se consideraram felizes, mas apenas 27% dos habitantes no continente americano acreditam que melhores tempos económicos virão, percentagem esta que, mesmo assim, é o dobro face aos 12% de “crentes” em melhorias económicas nos países da Europa ocidental. O Panamá e o Peru são os países do continente americano mais optimistas do ponto de vista económico, representando, no entanto, metade da percentagem auferida pela Nigéria, “líder” mundial nesta categoria.

Pelo “amor à pátria”

22012015_OptimismoEmTemposDeColera2A disponibilidade para representar o seu país numa guerra foi uma outra questão apurada neste estudo. A nível mundial, 60% dos cidadãos mostraram-se preparados para levantar armas em defesa do seu país, contra 27% que se revelaram indisponíveis para essa “tarefa”.

Sem grandes surpresas, são os países do Médio Oriente e Norte de África aqueles que revelam um maior grau de “amor à pátria”, com 77% dos inquiridos dessa região a mostrarem-se dispostos a lutar. A Ásia surgiu logo de seguida, apresentando 71% dos inquiridos com determinação para enfrentar uma guerra. Mais uma vez, o continente americano revelou um resultado “misto”, com 48% dos respondentes a afirmarem disponibilidade para entrarem numa viagem que pode não ter regresso.

No fim da tabela, está a Europa Ocidental, que foi considerada a região mais reticente no que a correr risco de vida pelo país diz respeito, tendo em conta que apenas um quarto ponderou esta hipótese e cerca de metade da população recusou mesmo lutar para honrar a sua nação. Para reforçar esta realidade, o Reino Unido, França e a Alemanha foram os países que menos se mostraram prontos para a guerra, com 27%, 29% e 18% de respostas afirmativas, respectivamente, sobre esta questão. Com percentagens ligeiramente mais elevadas respondem o Canadá (com 30%), e os Estados Unidos (com 44%); o Panamá e a Columbia conseguiram “reunir” pouco mais de 60% de cidadãos dispostos a lutar numa guerra.

[pull_quote_left]A Europa é o continente mais pessimista do mundo[/pull_quote_left]

Estes números mostram claramente a diversidade de valores em que cada região acredita. Nos países do Médio Oriente, as populações são muito mais extremistas e dispostas a dar a vida pela sua pátria, pois acreditam que é esse o seu papel e uma via para atingirem a felicidade. Já os países ocidentais são mais tolerantes, menos bélicos e não se revelam manifestamente adeptos desta “prática”.

As reticências dos portugueses

22012015_OptimismoEmTemposDeColera3Em Portugal, o estudo foi feito com o apoio da Marktest, e contou com mil e uma respostas de inquiridos com mais de 18 anos, com os mais variados níveis de escolaridade, de rendimentos e de estatutos.

Apesar de 2014 ter sido um ano complicado do ponto de vista económico para os portugueses, estes revelaram-se mais felizes e optimistas face ao ano anterior. Enquanto as previsões, de 2013 para 2014, apontavam para um cenário pior no ano seguinte (com 57% dos mil inquiridos a escolherem essa opção e 15% a considerarem o oposto), um ano depois, a realidade foi diferente: apenas 29% esperavam um Portugal pior em 2015, valor este que quase igualou o da expectativa de um ano melhor (27%); adicionalmente, 41% dos respondentes consideraram que a situação iria manter-se.

Do ponto de vista económico e embora igualmente mais optimistas que no estudo anterior, os portugueses revelam-se conscientes das dificuldades que o País enfrenta. Foram 44% aqueles que se mostraram pouco confiantes quanto ao crescimento da economia, e 39% os que indicaram que a situação se iria manter. A manifestar uma expectativa positiva esteve cerca de um quarto da população (valor que, ainda assim, duplicou o aferido no estudo do ano anterior).

Embora tenha registado uma ligeira subida, este estudo revela que é ainda reduzido o número de portugueses que se considera muito feliz com a vida que tem. Sem grandes surpresas, o povo português considera-se “feliz” ou “nem feliz nem infeliz”, apresentando estes conceitos percentagens muito semelhantes: 44% versus 39%. Apenas 4% dos inquiridos declararam-se “muito felizes”.

[pull_quote_left]77% dos inquiridos no Médio Oriente e Norte de África estão dispostos a lutar[/pull_quote_left]

Sobre a participação numa guerra, não restam grandes dúvidas: praticamente metade dos participantes revelou indisponibilidade para empunhar uma arma em representação do País. Apenas 28% revelaram essa vontade, e 24% mostraram-se indecisos.

O estudo revela ainda que, apesar de a democracia já ter assistido a “dias melhores”, a larga maioria (88%) dos respondentes revela que este é o melhor sistema de governo. Se apenas 53% acreditam que o nosso país é governado pelas pessoas certas, 60% dos cidadãos consideram, contudo, que Portugal é uma nação onde as eleições são livres e justas.

Embora os resultados deste estudo sejam positivos, os mais recentes acontecimentos que marcaram o mundo (o episódio “Charlie Hebdo”, as constantes mortes pelas mãos de jihadistas, os ataques perpetrados por Boko Haram, na Nigéria ou a “nova guerra fria” personificada pela Rússia, entre outros) não “dignificam” o sentimento de felicidade e de optimismo que muitos cidadãos, um pouco por toda a parte, revelaram no último trimestre de 2014. Começar o ano com ataques terroristas, independentemente de quem os pratica, é uma verdadeira ameaça ao bem-estar e à confiança das populações, a nível mundial.

Jornalista

1 COMENTÁRIO

  1. Sem alegria, sem amor, sem trabalho e sem respeito não vale a pena viver

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