Chama-se InMoov, é um robot impresso em 3D e está a ser criado, a partir de uma plataforma online e em regime open source, para melhorar a qualidade de vida de crianças hospitalizadas. De baixo custo e construção fácil, tem ainda a particularidade de ser produzido em escolas londrinas, com o apoio de empresas locais. E este é apenas o primeiro de vários “robots que fazem o bem”…
POR
MÁRIA POMBO

Existem empreendedores que fazem milhões em dinheiro e geram lucro para si próprios, e há os outros: aqueles que criam oportunidades para que milhões de crianças possam ser um bocadinho mais felizes. Foi este o pensamento que reuniu, à mesma mesa, Richard Hulskes e uma equipa de entusiastas preocupados com o bem-estar da sociedade, em geral, e da população infantil, em particular. E daqui nasceu um plano simples, inovador e que promete melhorar a vida de muitas crianças e jovens.

O projecto chama-se “Robots que fazem o bem” e pretende conferir “super-poderes” às crianças hospitalizadas. Está a ser desenvolvido com o apoio da Wevolver, uma plataforma online da qual Hulskes é co-fundador e onde “inventores”, criativos ou meros curiosos podem partilhar os seus projectos, melhorar aqueles que já existem ou apenas ganhar inspiração. Tudo isto em regime open source, é claro.

Chama-se InMoov e foi criado pelo escultor e designer Gael Langevin que, em conjunto com Hulskes e uma equipa de especialistas em diversas áreas (como a engenharia, a matemática, a educação ou o design), está a desenvolvê-lo e a torná-lo real. Após a construção, o seu primeiro papel é transformar-se, por momentos, no corpo e os olhos das crianças do Great Ormond Street Children’s Hospital (GOSH), um hospital pediátrico de Londres. Através deste robot, estas crianças poderão “visitar” o jardim zoológico, a três dimensões e em tempo real, sem saírem dos seus quartos. Após esta fase, a ideia é que venha a ser replicado e utilizado por crianças e adultos em qualquer parte do mundo.

Seguindo a missão da Wevolver de transformar as ideias em realidade, este robot está a ser construído em “código aberto”, e todos os manuais serão disponibilizados aos utilizadores, para que cada um fabrique livremente o seu. Para além disso, a equipa compromete-se a disponibilizar informações sobre os locais onde os materiais podem ser adquiridos a baixo custo. Um dos grandes objectivos desta plataforma é, aliás, promover a acessibilidade e a “democratização” da tecnologia e o seu desenvolvimento sem patentes. Desta forma, é estimulada a inovação através da colaboração entre pessoas, assim como a procura de soluções para problemas sociais (neste caso concreto, da população infantil) sem ser necessário o apoio estatal ou grandes investimentos.

Uma outra vantagem deste “humanóide” é o facto de a maioria dos seus componentes ser impressa em 3D, o que permite a sua fácil construção em qualquer parte do mundo. Apesar de parecer ainda uma inovação saída directamente de um filme de ficção, a impressão a três dimensões tem gozado de uma expansão expressiva e célere, tanto ao nível da aquisição de impressoras, como de locais onde as impressões podem ser feitas. Esta premissa vai ao encontro dos propósitos da Wevolver, na medida em que, desta forma, é possível construir um robot que seja realmente económico.

Original é igualmente o facto de estes robots poderem ser produzidos por crianças, em escolas londrinas e com o apoio de produtores e fabricantes locais, realidade que está já em curso. Para além de diminuir grandemente os custos de mão-de-obra, esta “característica” tem uma forte componente educativa, pois desperta nos jovens o interesse pela tecnologia, sendo igualmente útil na sensibilização da sociedade para a construção de um mundo melhor. Ao mesmo tempo, as crianças podem ensinar outras pessoas a construir este robot, a compreender o seu funcionamento e a descobrir novas funcionalidades, ampliando o número de pessoas que o podem construir e a quem este pode chegar.

© www.robotsforgood.com
© www.robotsforgood.com

“Ir para fora, cá dentro”

O InMoov irá ter as dimensões de uma pessoa “comum”. O tronco, a cabeça e os membros superiores terão um aspecto humano, e os membros inferiores darão lugar a uma Open Wheels, um veículo inspirado na conhecida SegWay e cujo sistema electrónico, movido através de um motor, permite o controlo das rodas e o equilíbrio de toda a estrutura.

Adicionalmente, este robot irá comportar um sistema electrónico de última geração que lhe permitirá uma melhor interacção com a realidade: desta forma, o seu corpo mover-se-á de acordo com os movimentos do utilizador e, com recurso a uns óculos que permitem ver em tempo real e a três dimensões, os seus olhos serão os olhos da criança.

A tecnologia irá permitir que, sem esforço, o robot “imite” os movimentos das crianças, permitindo que estas apreciem os seus animais favoritos e todo o ambiente que, naquele momento e ainda que virtualmente, os rodeia. Assim, a cabeça do InMoov gira à medida que gira a cabeça do seu utilizador, da mesma forma que os braços se movem e conseguem apontar ou tocar em objectos, se for esse o gesto da criança a quem o aparelho está ligado. A utilização será tão simples que as crianças não vão precisar de sair da cama para ganharem “super-poderes”.

Incrivelmente, e segundo Hulskes, “há uma grande comunidade empenhada em construir robots, mas todos eles são sem pernas”; por outro lado “há igualmente um grande número de entusiastas que desenvolvem sistemas em open source baseados na SegWay”. Para este empreendedor, a solução é tão simples como “juntar ambos e garantir que funcionam em conjunto”.

Consciente de que as crianças são um público exigente, para a equipa todos os pormenores são essenciais. É também por isso, e porque se trata de “mais do que apenas deixar as crianças entusiasmadas” que é tão importante o parecer destas sobre aspectos técnicos, segundo comentou o mentor deste projecto, os quais vão ser fundamentais para o aperfeiçoamento do robot.

© DR
© DR

O sonho pode (mesmo) comandar a vida

A facilidade de comunicação e de disseminação de ideias, veiculada pela Internet, permite que o corpo deste robot seja construído em Londres e toda a parte electrónica seja desenvolvida nos Estados Unidos, com ambas as equipas a funcionar em plena sintonia. Esta é, aliás, uma vantagem determinante para o sucesso deste projecto, pois o mesmo consegue reunir um conjunto de peritos das mais diversas áreas que, apesar de residirem em vários cantos do mundo (o próprio criador do InMoov é francês), partilham a mesma vontade de criar algo que, de facto, pode ser útil para muitas pessoas.

Se, nos últimos 20 anos, nos fomos maravilhando com as inimagináveis possibilidades do mundo digital, poderemos estar agora mais perto do seu “próximo passo”: ter a capacidade de conceber, online, um projecto e, de seguida, transformá-lo em algo físico, tangível, que podemos ter em casa, a baixo custo e verdadeiramente útil, desenvolvendo-o e melhorando-o de forma fácil e intuitiva, para que o mesmo faça face às nossas necessidades diárias.

Na sua fase-piloto, este robot completamente móvel dará às crianças a oportunidade de conhecer o jardim zoológico de Londres, mas posteriormente poderá ser usado em qualquer lugar, interagindo até com os transeuntes. Os passos serão dados à medida que forem surgindo as diversas necessidades. No entanto, o sucesso deste projecto apenas será “declarado” quando, através dele, qualquer criança puder “visitar” qualquer parte do mundo.

Se este projecto, lançado na internet há apenas seis meses, está já a ter um sucesso tal que é apoiado e divulgado em diversas partes do mundo e se existe a vontade, expressa pelos seus criadores, de o mesmo ser utilizado para um fim realmente útil para a sociedade, as suas vantagens poderão ser ilimitadas. Se pensarmos na população infantil, são de facto muitos e variados os sonhos que, de uma forma mais fácil, podem ser realizados.

Com um custo surpreendentemente baixo (avaliado em 2500 dólares pelos seus produtores, contra os milhões que tantas vezes são exigidos) e uma construção relativamente simples e intuitiva, urge questionar: serão estes motivos suficientes para que, por exemplo, qualquer criança de qualquer parte do mundo possa ter acesso à educação?

Veja o InMoov em acção

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Jornalista