No actual paradigma e estado de evolução tecnológica, toda a actividade produtiva emite carbono (e outros GEE), consome recursos naturais e provoca resíduos. A low carbon economy e a ecoinovação só poderão ser alcançadas quando o “gap” entre a economia – representada maioritariamente pelas PME – e a sustentabilidade, se estreitar

But man is a part of nature, and his war against nature is inevitably a war against himself – Rachel Carson

O imperativo da sustentabilidade e do desenvolvimento sustentável fez-se sentir com maior estertor no início deste século, sendo que os desafios das alterações climáticas, da água, da energia, segurança alimentar e dos resíduos, entre outros, são actuais e incontornáveis.

Por outro lado, a economia real – aquela que produz os bens e os serviços transaccionáveis – continua maioritariamente a operar de acordo com o business as usual, ou seja, a sua perspectiva acerca dos recursos naturais e do planeta pouco difere, na essência, da abordagem da primeira revolução industrial.

No entanto, a realidade é substancialmente diferente: os recursos não são infinitos (em muitos casos são escassos) e o tipo, intensidade e frequência das emissões poluentes não permitem a regeneração dos ecossistemas. Foi isso que Rachel Carson denunciou, no seu livro pioneiro “Silent Spring” no início da década de 60, e que marcou, simbolicamente, o arranque do movimento ambientalista.

Mais de 50 anos depois, e apesar de todos os esforços e declarações de boa vontade, tudo indica que o ano de 2016 irá destronar 2015 como o mais quente desde que há registo (1880) e que, no novo cenário, o nível médio das águas do mar poderá, em 2100, atingir o dobro do previsto (dois metros), salvo uma diminuição drástica da emissão dos Gases de Efeito de Estufa (GEE), conforme acordado na COP 21.

As empresas têm, como não podia deixar de ser, um papel determinante nesta questão.

De facto, no actual paradigma e estado de evolução tecnológica, toda a actividade produtiva – de uma forma ou de outra – emite carbono (e outros GEE), consome recursos naturais e provoca resíduos. A constatação é que existe uma associação entre desenvolvimento, bem-estar e… aquecimento global!

O conceito de sustentabilidade advoga a conciliação e harmonização entre a economia, a sociedade e o ambiente; uma estratégia win-win-win de que todos sairemos a ganhar, se ainda formos a tempo. Sendo, no entanto, um conceito geral, pode e deve ser operacionalizado na prática.

[quote_center]Apesar de todos os esforços e declarações de boa vontade, tudo indica que o ano de 2016 irá destronar 2015 como o mais quente desde que há registo (1880)[/quote_center]

Uma das medidas concretas seria a adopção e a implementação do conceito de “economia circular” (assim designada em oposição à “economia do desperdício” ou “linear”) e que descreve uma economia industrial caracterizada por dois tipos de fluxos: os biológicos e os tecnológicos. Após utilização, os nutrientes biológicos são concebidos para reentrarem de modo seguro na biosfera, enquanto os tecnológicos para que continuem a circular na tecnosfera, com elevada qualidade e sem contaminarem o ambiente.

Uma das suas características são os “ciclos fechados de materiais” (closed loops), onde os resíduos de um processo são usados como matéria-prima de outro, potenciando ao máximo a recuperação de material e de energia e de modo a promover a utilização eficiente dos recursos, em linha com os princípios ecológicos e económicos.

No limite, poderá e deve conduzir à cooperação, complementaridade e simbiose entre indústrias e sectores, em que os resíduos de uns são a matéria-prima de outros, mimetizando, dessa forma, os processos naturais.

Contudo, à escala empresarial já existem ferramentas que permitem conceber materiais, produtos e serviços de menor impacte ambiental, nomeadamente as metodologias de Avaliação de Ciclo de Vida (ACV) e de ecodesign, ambas normalizadas.

Pretende-se, por um lado, quantificar, numa primeira fase e do modo mais objectivo e preciso possível, os impactes associados a um determinado produto ou serviço (ACV) e, posteriormente, redesenhá-lo de modo a implementar as melhorias identificadas (ecodesign). Este processo de concepção ambientalmente orientada almeja a ecoeficiência, ou seja a optimização ambiental e económica, pois um dos aspectos está, regra geral, intrinsecamente associado ao outro.

Estas metodologias são um modo prático e efectivo de contribuir para produtos ou serviços com menores pegadas hídrica e de carbono, mais eficientes do ponto de vista da energia, menos poluentes ou perigosos para a saúde humana, e concebidos para serem reutilizados, reciclados ou facilmente degradados em caso de deposição na fase final do ciclo de vida.

Por isso, tanto a Avaliação de Ciclo de Vida como o ecodesign são instrumentos importantes para a descarbonatação da economia (low carbon economy) e para a ecoinovação, objectivos a que a União Europeia se propôs, e que só poderão ser alcançados quando o “gap” (distância) entre a economia – representada maioritariamente pelas PME – e a sustentabilidade, se estreitar.

Engenheiro e CEO da FACTOR4Sustainability®

3 COMENTÁRIOS

  1. Neste seu acto reflexivo o Colega ensaia mais um alerta à sociedade em geral, para a necessidade de internalizar um “imperativo de consciência” individual e colectivo.
    A sustentabilidade e o desenvolvimento sustentável são duas “óperas” interpretadas pelos protagonistas do quotidiano a seu belo prazer e sem a observância de uma identidade rítmica, que nos conduza a um novo paradigma de qualidade de vida alicerçada na regeneração dos ecossistemas, na redução e reutilização dos resíduos e na edificação de um novo modelo de “economia circular” auto-realimentado pela eficácia e a ecoeficiência.
    Temos pois que pugnar por uma actuação transnacional, em que nas mais diversas localidades e culturas ao redor do mundo, nos faça pensar de maneira inclusiva, sistémica e global e ao mesmo tempo, possamos buscar novas fórmulas e construir soluções de maneira a envolver todas as partes interessadas.
    Convínhamos, que é um desafio difícil de protagonizar numa economia humanamente contaminada pela “inveja”, a “intriga” e o “desperdício”.
    Pudéramos nós, porventura, decretar a vontade das “pessoas” e a solução do problema poder-se-ia tornar facilitada.

    FS

    • Dada a minha formação em ambiente e o meu especial interesse de acompanhamento constante da área económica, verifico que, desde à muito que tem sido na realidade muito difícil conciliar estes dois mundos. Também a intriga, a inveja e o desperdício contribuem, mas, interesses individuais egoístas e não interesses coletivos, tomaram desde à muito conta da economia mundial. Isto, lamentavelmente não vai ter bom fim para as gerações vindouras, incluindo já a geração dos nossos filhos.
      Infelizmente, a economia mundial como a vejo neste momento, não procura a sustentabilidade das gerações futuras, mas sim a ganância de alguns. E porque não expropriar os milhões escondidos nas offshore, para o combate às questões sociais e ambientais? Os “donos” não sentiriam falta deles e o planeta agradecia. Decrete-se isso já!
      Por vezes, quando olho já para algumas zonas do globo afetadas pela fome e a seca extrema e vejo crianças desnutridas, penso como pai que sou, será que um dia as nossas crianças, que hoje ainda tem alguns recursos, um dia não estarão privadas desses mesmos recursos? Talvez!
      Torna-se assim imperativo despertar na mente de cada um uma consciência de combate ao desperdício e de melhor utilização de recursos.
      Todos nós temos que ter uma parte ativa e, o papel do coletivo, ou seja, das empresas, poderá ajudar a inverter a atual tendência de auto destruição da humanidade. É importante também que os centros técnicos continuem incessantemente a influenciar as políticas mundiais, fazendo-lhe ver que sem recursos futuros não há economia e sem economia não haverá bem-estar.
      As guerras que se travam hoje pelo recurso petróleo, vão bater à porta das próximas gerações na luta pelo recurso água!

  2. Dada a minha formação em ambiente e o meu especial interesse de acompanhamento constante da área económica, verifico que, desde à muito que tem sido na realidade muito difícil conciliar estes dois mundos. Também a intriga, a inveja e o desperdício contribuem, mas, interesses individuais egoístas e não interesses coletivos, tomaram desde à muito conta da economia mundial. Isto, lamentavelmente não vai ter bom fim para as gerações vindouras, incluindo já a geração dos nossos filhos.
    Infelizmente, a economia mundial como a vejo neste momento, não procura a sustentabilidade das gerações futuras, mas sim a ganância de alguns. E porque não expropriar os milhões escondidos nas offshore, para o combate às questões sociais e ambientais? Os “donos” não sentiriam falta deles e o planeta agradecia. Decrete-se isso já!
    Por vezes, quando olho já para algumas zonas do globo afetadas pela fome e a seca extrema e vejo crianças desnutridas, penso como pai que sou, será que um dia as nossas crianças, que hoje ainda tem alguns recursos, um dia não estarão privadas desses mesmos recursos? Talvez!
    Torna-se assim imperativo despertar na mente de cada um uma consciência de combate ao desperdício e de melhor utilização de recursos.
    Todos nós temos que ter uma parte ativa e, o papel do coletivo, ou seja, das empresas, poderá ajudar a inverter a atual tendência de auto destruição da humanidade. É importante também que os centros técnicos continuem incessantemente a influenciar as políticas mundiais, fazendo-lhe ver que sem recursos futuros não há economia e sem economia não haverá bem-estar.
    As guerras que se travam hoje pelo recurso petróleo, vão bater à porta das próximas gerações na luta pelo recurso água!

    Nunes

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