Só as redes colaborativas, capazes de gerar governação integrada, multinível e multissectorial, poderão ter maior eficácia e eficiência na gestão de problemas complexos. Perante problemas que são difíceis de definir e de resolver, que estão sempre a mudar e que têm um grau de resistência muito grande, torna-se evidente que soluções lineares não funcionam. Mas colaborar não é intuitivo e não é fácil. A repartição de poder e de orçamento são obstáculos sempre presentes
POR RUI MARQUES*

Conscientes de que a colaboração interorganizacional é essencial para responder à complexidade e à fragmentação, o Forum para a Governação Integrada (Forum GovInt) e os seus promotores desenvolveram, em Lisboa, nos dias 30 e 31 de Janeiro, a IV Conferência Internacional “E que tal se colaborássemos?”, que contou com a presença de cerca de 1100 participantes.

Raquel Fernandes é gestora do Forum para a Governação Integrada (Forum GovInt)

Nesta iniciativa, constituída por vários painéis de oradores, nacionais e internacionais, foram abordadas temáticas como os desafios da colaboração, a perspectiva multinível e multiescala da colaboração, os desafios da inovação social e da medição de impacto. Foram ainda realizadas sessões paralelas dinamizadas pelos Grupos de Trabalho do Forum GovInt sobre os factores críticos de sucesso para a governação integrada e sobre os problemas sociais complexos, com o objectivo de partilhar os resultados e os produtos resultantes da fase 2.0 e de promover a reflexão sobre as várias temáticas.

Integrada na preparação do Ano Nacional da Colaboração (2019), esta conferência visou promover um espaço de reflexão e de partilha entre profissionais, académicos e políticos, para a promoção de uma cultura organizacional de colaboração.

Só as redes colaborativas, capazes de gerar governação integrada, multinível e multissetorial, poderão ter maior eficácia e maior eficiência na gestão de problemas complexos. Perante problemas que são difíceis de definir e de resolver, que estão sempre a mudar e que têm um grau de resistência muito grande, torna-se evidente que soluções lineares não funcionam. Mas colaborar não é intuitivo e não é fácil. “Silos”, “egos” ou, ainda, a repartição de poder e de orçamento, são obstáculos sempre presentes. Ainda assim, importa criar a consciência de que é necessário colaborar, desafiando os cidadãos e as organizações para essa dinâmica.

Diante de desafios complexos como a pobreza extrema, a exclusão social, o terrorismo internacional ou as alterações climáticas torna-se imperativo colaborar, sendo necessário criar uma nova consciência cultural, que permita alterar a forma como olhamos e compreendemos os problemas complexos. E é esse o grande desafio actual: construir modelos colaborativos de visão partilhada, com capacidade de acção conjunta e com dinâmicas que potenciem recursos porque, perante a complexidade, necessitamos de respostas integradas.

A compreensão de que a colaboração não é automática, nem é instantânea, e é de construção demorada, constitui um ponto de partida crucial para se poder afirmar modelos de governação integrada. Para que seja possível construir, com sucesso, uma rede colaborativa há que ter consciência que é necessário desenvolver competências e atitudes, bem como deter conhecimentos que possam ser instrumentos nesse tecer delicado de relações e de confiança que é exigido.

[quote_center]Integrada na preparação do Ano Nacional da Colaboração (2019), a IV Conferência Internacional GovIt promoveu a cultura interorganizacional[/quote_center]

Nesta reflexão do Forum para a Governação Integrada, sobre a chave do sucesso colaborativo, foi sendo claro que há factores críticos que determinam, em grande medida, o destino de uma parceria estruturada através da colaboração entre várias organizações. Progressivamente, foi-se compreendendo que há factores críticos de sucesso como a comunicação, a liderança, a participação ou a monitorização e avaliação, que constituem eixos essenciais a ter em conta e que necessitam de um investimento de capacitação das partes interessadas.

A par dessas dimensões, embora de natureza diferente dos factores críticos de sucesso, surge o tema da confiança como condição indispensável, como “oxigénio” da governação integrada e partilhada. Infelizmente não percebemos que a confiança se destrói rapidamente e que a desconfiança não gera uma sociedade melhor, e que, se colaborarmos mais, geramos mais confiança e criamos elos mais forte.

A dimensão do conhecimento e da capacitação assume-se como um dos maiores desafios do futuro próximo para o Forum para a Governação Integrada. Por mais que possa parecer intuitivo, colaborar exige conhecimento e desenvolvimento de competências. Só colabora bem quem, para além de eventual aptidão prévia, sabe e quer colaborar. E, por isso, todos temos ainda muito a aprender.

*Rui Marques escreveu esta coluna de Opinião em colaboração com Raquel Fernandes

Presidente do Instituto Pe. António Vieira e coordenador da PAR - Plataforma de Apoio aos Refugiados