O Índice de Competitividade Global divulgado há uma semana pelo Fórum Económico Mundial identificou o crescimento lento da produtividade e a desigualdade de rendimentos como as duas grandes tendências que continuam a impedir uma retoma económica inclusiva e sustentada. O VER contextualiza os principais constrangimentos sublinhados, os motivos porque Portugal desceu oito posições no ranking deste ano – com a ajuda da AESE Business School – e ainda os principais motores de crescimento que reflectem uma nova realidade económica à qual não é possível fugir
POR
HELENA OLIVEIRA

Crescimento lento da produtividade e aumento da desigualdade de rendimentos são as duas principais tendências de longo prazo identificadas pelo Fórum Económico Mundial (FEM) no que à competitividade global diz respeito. No mais recente Índice de Competitividade Global 2016-2017 (GCI, na sigla em inglês), divulgado há uma semana, são estes os principais constrangimentos que se apresentam a muitas das economias que ainda não conseguiram descolar da estagnação e queda provocadas pelo período de crise económica e financeira, a somar, em muitos casos, a um acentuado envelhecimento da população. Portugal desceu oito lugares no ranking da competitividade, ocupando agora a 46ª posição no conjunto de 138 países analisados e continuando a pertencer ao clube das 10 economias desenvolvidas menos competitivas, apesar de ter melhorado o seu desempenho em alguns indicadores importantes.

A apresentação dos dados para Portugal teve lugar na AESE Business School, e esteve a cabo da PROFORUM e do FAE, as entidades nacionais que são responsáveis pelo denominado Executive Opinion Survey, uma “secção” que integra o relatório em causa e que visa, através de um inquérito realizado aos gestores e empresários de cada país, tomar o pulso das dificuldades mais sentidas pelos mesmos nos ambientes de negócios nacionais. Mais do que divulgar o quão bem ou mal as economias globais se estão a comportar, o VER optou por contextualizar as forças e fraquezas responsáveis pelo estado global da competitividade, a par dos desafios macroeconómicos que devem ser ultrapassados para abrir caminho a uma prosperidade futura e, idealmente, duradoura.

Complementarmente, pedimos a Jorge Ribeirinho Machado, professor na AESE Business School, que comentasse os resultados para Portugal (v. Caixa 1), de acordo com os indicadores, bons e maus, que mais se evidenciam neste relatório.

A fechar esta análise, e na medida em que a primeira edição deste Índice remonta a 1979, o VER divulga algumas das alterações que o FEM tem vindo a introduzir, no que respeita a uma nova abordagem da competitividade que visa reflectir melhor a realidade económica actual (v. Caixa 2)

Perspectivas de crescimento futuro continuam limitadas por tendências de longo prazo

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“A abertura em declínio da economia global está a ameaçar a competitividade e a dificultar o caminho dos líderes no que respeita a um crescimento sustentável e inclusivo”. Foi assim que Klaus Schwab, o fundador do FEM, resumiu a “principal conclusão”do Índice deste ano, o qual alerta ainda para o facto de as medidas de estímulo monetário, de que é exemplo o “quantitative easing”, não estarem a ser suficientes para sustentar o crescimento, sendo cada vez mais urgente recorrer-se a reformas estruturais para estimular a competitividade. Uma outra conclusão importante identificada pelo FEM diz respeito o facto de, no ambiente empresarial da actualidade, ser necessária uma “actualização” das práticas de negócio, com o investimento em inovação a ganhar uma importância similar à das infra-estruturas (área em que Portugal se destaca num bom 22º lugar), competências e mercados eficientes.

Em termos gerais, o estado da economia global reflecte um contexto marcado pela lentidão persistente do crescimento e com as perspectivas de curto prazo a apontarem para uma incerteza renovada, estimulada pela turbulência geopolítica contínua, pela fragilidade dos mercados financeiros e por níveis elevados das dívidas públicas, em particular nos mercados emergentes, cenário a que Portugal continua também a não escapar.

Para o FEM, e apesar das políticas monetárias “não ortodoxas”, o crescimento do PIB global decaiu para 2.5 por cento em 2015, face a 4.4 por cento em 2015. Esta queda no crescimento reflecte, de acordo com o relatório, não só o abrandamento da produtividade já documentado no ano anterior, e que persiste este ano, mas também o que aparenta ser já uma tendência de longo prazo traduzida pelo declínio das taxas de investimento.

Assim, o que é mais visível nos resultados deste ano é que as perspectivas de crescimento futuro estão “limitadas” por tendências de longo prazo – em particular o abrandamento da produtividade e o aumento das desigualdades, já previamente enunciadas – com a agravante de que a estagnação dos rendimentos e a crescente desigualdade na sua distribuição ter aberto portas para políticas mais “introspectivas”, com subsequentes pressões proteccionistas e um questionamento vincado das premissas subjacentes à globalização em muitas economias, com o FEM a apontar o Brexit como a melhor “personificação” deste fenómeno também em crescimento.

Mas, e tendo sempre como cenário de fundo a “sua” Quarta Revolução Industrial, temática que tem vindo a ser uma constante no trabalho desenvolvido pelo FEM (e a qual o VER tem vindo a acompanhar também), o relatório sublinha também as promessas desta nova era no que respeita a um possível crescimento económico significativo, em conjunto com progressos sociais que possam, um dia, levar a um desenvolvimento realmente sustentável e inclusivo que signifique uma maior probabilidade para que a sociedade no seu todo possa usufruir dos frutos do crescimento económico. Apesar de serem muitas as reservas no que respeita a esta utopia, o FEM acredita que a convergência tecnológica que está a permitir que sejam esbatidas as linhas entre as esferas físicas, digitais e biológicas, e que se traduzem em progressos na inteligência artificial, na biotecnologia, na robótica, na Internet das Coisas, na impressão a 3D, entre outras, irá abrir novas avenidas para o crescimento e desenvolvimento no futuro, apesar de estar igualmente consciente dos desafios, em particular sociais, que esta deverá despoletar.

Por outro lado, o FEM também sublinha que os constrangimentos políticos e ideológicos que pesaram nas políticas fiscais na sequência da crise financeira deixaram as políticas monetárias como a única hipótese existente para os governos das economias avançadas tentarem evitar uma estagnação duradoura. Mas e apesar destas medidas poderem ter tido algum sucesso na estabilização do crescimento a curto prazo, para assegurar um caminho que permita chegar a um crescimento mais elevado no futuro, serão necessárias reformas do lado da oferta, que aumentem a competitividade, em conjunto com investimentos que reforcem os sectores produtivos da economia.

E, com a Quarta Revolução Industrial a ganhar um ritmo mais acelerado, será cada vez mais importante apoiar a emergência de novos sectores de actividade económica através dessas mesmas reformas na competitividade com vista a fomentar a inovação. Mas a verdade é que, de acordo com a avaliação agora realizada a estes 138 países, os progressos relacionados com um novo ambiente que estimule a inovação permanecem como apanágio de apenas algumas economias. Ou e em suma, o crescimento futuro irá depender em grande escala da capacidade das economias salvaguardarem os benefícios da abertura ao comércio e ao investimento, os quais têm contribuído significativamente para reduções visíveis nas taxas de pobreza nas décadas mais recentes. O que não é suficiente, contudo, para apagarmos da nossa memória as estatísticas chocantes que ainda esta semana foram divulgadas no que respeita aos 385 milhões de crianças que, de acordo com dados de 2013 divulgados num estudo conjunto do Banco Mundial e da Unicef, continuam a viver na pobreza extrema.

Competitividade ainda a reboque da crise financeira

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Apesar de algumas subidas e descidas, o top 10 das economias mais desenvolvidas do mundo continua a ser ocupado pelos mesmos países que o integravam em 2015: A Suíça, Singapura e os Estados Unidos mantêm as mesmas três primeiras posições, com a Holanda a subir uma, para o quarto lugar, e a Alemanha a descer outra, posicionando-se agora em 5ª. A Suécia e o Reino subiram três lugares, ocupando agora os 6º e 7º lugares respectivamente, sendo que os três países que completam o top 10 sofreram uma queda de duas posições, com o Japão a ocupar o 8º lugar, seguido por Hong Kong e pela Finlândia.

Assim, e desta forma, o FEM conclui que as economias mais avançadas recuperaram, no seu conjunto, os níveis de competitividade anteriores à crise, mantendo as posições de topo à semelhança do que aconteceu nos últimos anos.

No que respeita às disparidades ainda existentes – “encimadas” pelos países da Europa de leste e do sul que continuam a ocupar as posições mais baixas neste “grupo” – a maior preocupação vai, sem surpresas, para a Grécia, que não conseguiu descolar da 181ª posição, a mesma que ocupava em 2015. O acesso ao financiamento continua a ser o obstáculo principal a um melhor desempenho económico por parte dos 10 países desenvolvidos que menos competitivos são (e onde Portugal está incluído).

Estes indicadores servem apenas para confirmar a evidência de uma Europa dividida entre os países reformistas e os que não o são. O FEM sublinha, contudo, melhorias significativas nas áreas da concorrência do mercado e da eficiência do mercado laboral para Portugal, em conjunto com a França, Irlanda e Espanha, aplaudindo as reformas que têm vindo a marcar estes quatro países europeus em particular e que contrastam, negativamente, com o Chipre e, mais uma vez, a Grécia. O relatório destaca mesmo a Espanha, a Itália, a França e Portugal como países que se esforçaram de modo expressivo no que respeita à sua competitividade, graças a pacotes de reformas particularmente direccionados para a melhoria do funcionamento dos mercados, com Espanha a subir duas posições (33ª posição) e a Itália seis (43ª). Todavia e apesar de melhorias similares no mercado laboral e dos produtos registadas em França (32ª) e em Portugal (38ª), estas foram suplantadas por uma performance mais fraca em outras áreas igualmente importantes.

Tal explica também a divisão entre os países que recuperaram a sua performance económica para níveis anteriores à crise e aqueles para quem a retoma tem sido menos robusta, mais incerta e mais duradoura do que era expectável, sugerindo um “novo normal” e um crescimento económico “contido”, baixa produtividade e níveis de desemprego ainda muito elevados, com o FEM a sugerir reformas que tenham como objectivo o aumento da produtividade como o “martelo” que poderá quebrar esta indesejada nova normalidade.

Complementarmente, as proporções históricas da crise financeira e a performance relativa das economias desde o seu deflagrar em 2008 demonstraram de que forma as fraquezas estruturais podem exacerbar os seus efeitos e impedir a efectiva recuperação destes choques, o que também indica que a competitividade confere resiliência – visível nos países que já os ultrapassaram – e uma “almofada” crucial face a potenciais réplicas futuras.

Também de uma forma geral, e no que respeita aos níveis de desemprego que dispararam em quase todos os países a seguir à crise, a nível individual, foram variadas e divergentes as trajectórias seguidas. Depois de um pico em 2010, as economias mais competitivas conseguiram diminuir as suas taxas de desemprego para níveis anteriores à crise, com os seus pares menos competitivos a não as conseguir inverter. Ou e em suma, a capacidade de uma economia para alavancar os seus talentos continua a constituir um elemento crucial da sua competitividade.


Portugal e o “peso que ainda nos arrasta para o fundo”

© AESE Business School
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A queda de oito lugares no ranking da competitividade global não augura tempos fáceis para a economia nacional, mas também não significa nenhuma desgraça iminente. Com um bom posicionamento no pilar das infra-estruturas (22º), bem como no da saúde e educação primária (ambos em 22º lugar, mas com uma honrosa subida de 32 posições nesta última), Portugal ocupa ainda um destacado 6º lugar na facilidade de criação de negócios (em 2006, não ia além de uma terrível 89ª posição) e goza de uma promissora “maturidade tecnológica”, que o coloca na posição 26 entre 138 países analisados.

Contudo, uma má performance em vários outros indicadores, em especial na área financeira, explicam a 46ª posição que ocupa actualmente e que o faz permanecer no clube das 10 economias desenvolvidas menos competitivas.

No seguimento da sessão pública de apresentação que teve lugar na AESE Business School, e com a presença da Associação para o Desenvolvimento da Engenharia (PROFORUM) e do Fórum de Administradores e Gestores de Empresas (FAE), as duas instituições “interlocutoras” do FEM no nosso país, o VER pediu a Jorge Ribeirinho Machado, professor nesta mesma escola de negócios, que comentasse alguns dos indicadores responsáveis por este declínio na competitividade nacional.

Quando, em 2015, Portugal acusou uma queda de duas posições (38º) face a 2014 (36º), ano em que registou uma subida significativa de 15 lugares – esta descida foi considerada como uma espécie de “acerto técnico”. Todavia, descer oito lugares entretanto parece ir bem mais longe do que meros “acertos”. Como avalia esta queda significativa, para já em termos globais e tendo em conta a performance das demais economias?

O cálculo do índice que origina o ranking tem uma componente objectiva e uma subjectiva. Na objectiva, Portugal não variou muito nos últimos três anos. Na subjectiva, sim: se de 2013 para 2014 os dirigentes ficaram super-optimistas com as perspectivas de evolução da economia (e daí a subida de 15 lugares), o ano de 2015 já os fez refrear as expectativas, e, por fim, neste ano de 2016 a confiança no futuro da economia desceu significativamente.

Olhando para o “interior da nossa competitividade”, a verdade é que Portugal acusou quedas mais do que significativas, em particular nos itens relacionados com a área financeira. E se basta estarmos atentos às notícias para não nos espantarmos com a quebra nos mercados financeiros e na solidez dos bancos (ambas com menos 9 posições) como se explica, aos leigos, não só estas “más notas”, mas também a descida vertiginosa de 43 posições na regulação dos mercados e nos standards das auditorias (29)?

A CMVM tem um problema de liderança que dura há já demasiado tempo. Quanto aos standards das auditorias, as revelações dos escândalos financeiros feitas nas Comissões de Inquérito, media e acórdãos judiciais, mostram que estes mesmos standards podem não ter sido cumpridos.

A maioria das economias desenvolvidas recuperou os níveis de competitividade de que gozava no período anterior à crise financeira. Portugal continua, à semelhança dos últimos anos, bem “colado” ao lugar que ocupa no clube das 10 economias desenvolvidas menos competitivas. O que teria de acontecer, a médio prazo, para descolarmos de vez, deste grupo (sem ser um milagre)?

Os indicadores que mais precisam de subir são os relacionados com os impostos – temos uma carga fiscal desmesuradamente grande –, com o sistema financeiro – que necessita de bancos saudáveis –, e com o ambiente macroeconómico – em especial, a taxa de poupança das famílias e a dívida pública, que é como que um peso que nos arrasta para o fundo.

Com o WEF, em consonância também com a PROFURUM e o FAE, a subscrever o não abrandamento reformista com vista à superação dos constrangimentos macroeconómicos – nomeadamente o deficit continuamente elevado (96ª posição),a dívida pública gigantesca (134ª) e o preocupante acesso aos mercados de capital (100ª) – e com o país entre o optimismo e o descrédito face aos indicadores, como se explica aos portugueses que, apesar de, parecermos mais “economicamente felizes”, descemos oito posições na nossa competitividade?

Em primeiro lugar, penso que o ímpeto reformista do Estado não foi assim tão significativo quanto se afirma. E quase desapareceu em 2015. Quanto às empresas e famílias, a desalavancagem foi muito significativa, e é problemático que esta dívida volte a crescer.

Posto isto, as famílias têm mais dinheiro em 2016 do que no ano passado, porque diminuíram as medidas “de austeridade” para os indivíduos. Isto foi uma política desenhada para aumentar o consumo interno, e com ele, o crescimento. No entanto, o desejo que o aumento do consumo interno levasse ao crescimento económico não se concretizou.

Como não há o crescimento previsto, as receitas do Estado não são as previstas. Por isso, ou pede mais dinheiro emprestado (não pode, porque não pode aumentar o défice acima dos 3%) ou diminui os gastos (que é o que se fez em 2016). Veremos se em 2017 será possível continuar a ter um nível descendente de gastos do Estado. Se assim for, o ambiente macroeconómico vai melhorar, e seguramente vamos subir no ranking da competitividade.

Para não falarmos só no que é negativo, que factores positivos mais o surpreenderam em termos de “subida” e quais os que considera mais cruciais para a recuperação da nossa força competitiva?

Ao ler os valores desagregados, verifica-se que Portugal tem boas infra-estruturas (lugar 22), mas que os factores humanos que constroem a competitividade por cima dessas infra-estruturas é que falham: a educação básica e a saúde melhoraram para o lugar 22, a educação vocacional e universitária está no lugar 36, e a sofisticação dos negócios está ainda mais abaixo. É muito bom ver que subimos na área da educação primária e da saúde, e é crucial subirmos agora na educação vocacional e universitária. É um caminho longo, mas é fundamental ter as bases sólidas para vir a crescer no futuro.

Nota: Para ver, em pormenor, todos os indicadores de Portugal no Índice Global de Competitividade, bem como o Inquérito de Opinião aos Empresários da responsabilidade da PROFURUM e do FAE, clique aqui.


Mudam-se os tempos, mudam-se os motores (alguns) para a competitividade

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O Índice de Competitividade Global foi publicado pela 1ª vez em 1979, mantendo-se sem grandes alterações nas décadas que se seguiram. Na edição de 2015-2016, foram já apresentados alguns novos indicadores e novas abordagens para avaliar o capital humano e a prioridade de algumas políticas, com vista a reflectir a nova realidade económica. O índice agora publicado, e tendo como base a emergência da Quarta Revolução industrial (que apesar de constituir uma definição própria do FEM é, sem dúvida, uma realidade à qual nenhum país pode fugir), identifica cinco direcções claras que visam melhor avaliar a competitividade nesta nova área, mesmo que algumas delas se mantenham tão relevantes como antes. A saber:

  1. A produtividade continua a ser o impulsionador por excelência da prosperidade

Apesar da crescente complexidade inerente à avaliação da produtividade, os economistas têm poucas dúvidas sobre o papel central que a mesma desempenha no progresso económico. A prosperidade só poderá aumentar se os inputs da produção forem utilizados de forma inteligente e eficaz para preencher as exigências humanas em constante evolução. Assim, o FEM continua, tal como em 1979, a definir “competitividade” como o conjunto de instituições, políticas e factores que determinam o nível de produtividade de uma economia, o que, por seu turno, determina a prosperidade passível de ser alcançada por cada país.

  1. Orientação para o futuro é crucial

Porque a tecnologia está a causar disrupções de ordem variada – e inesperada – no ambiente de negócios e a uma velocidade sem precedentes, a característica principal para as economias de sucesso no futuro será a sua capacidade para serem ágeis, se adaptarem às mudanças, e responderem a choques relativamente rápidos e não muito complexos. E estes aspectos deverão ser “capturados” pelos pilares da educação e das competências, do mercado laboral e do mercado de bens, os quais avaliam até que ponto as regulamentações de um país, em conjunto com o seu capital humano, apoiam a mudança estrutural e a renovação da indústria.

  1. O significado de inovação tem de ser actualizado

A capacidade de um país para ser inovador tem de ser pensada como um ecossistema que não produz apenas conhecimento científico, mas que permite também que todas as indústrias – incluindo o sector dos serviços – e a sociedade no seu todo sejam flexíveis, interligadas, e abertas a novas ideias e a modelos de negócio inovadores. Assim, o FEM sublinha que esta forma de compreender a inovação se concentra na capacidade de um país para levar novos produtos e serviços ao mercado, e que atribua o mesmo nível de importância às invenções técnicas e não técnicas. Para ser verdadeiramente inovador, um país não se pode limitar a registar patentes e a apoiar a investigação e o desenvolvimento em ciência e tecnologia, mas também oferecer um ambiente que promova a criatividade e o empreendedorismo, que fomente a colaboração e que recompense os indivíduos que são “mente aberta” e que abracem novas formas de elaboração de tarefas. Num ecossistema com estas características, a modernização do enquadramento educativo tem um papel crucial: terá de oferecer oportunidades de aprendizagem ao longo da vida e ensinar os alunos a pensarem de forma crítica, a colaborarem com pessoas de diferentes backgrounds e a expô-los a diferentes ideias e pontos de vista. De forma similar, o sector financeiro precisa de disponibilizar mais capital de risco e novas soluções de financiamento adequadas a projectos mais pequenos ou mais arriscados, bem como a alavancar as plataformas de TIC, as quais são conhecidas hoje como FinTech.

  1. Infra-estruturas de TIC serão imperativas.

À medida que os modelos de negócio com base nas TIC se tornam prevalecentes, os países que falharem na transição para a economia digital enfrentarão uma enorme desvantagem competitiva, não só em termos comerciais, como também no que respeita ao próprio potencial de inovação. O que explica por que motivo os pilares da adopção de tecnologias, da agilidade dos negócios e da capacidade para inovar foram reformulados, sendo considerados no seu conjunto como parte do ecossistema de inovação. A avaliação das infra-estruturas de TIC foi igualmente adicionada ao pilar das infra-estruturas na medida em que estas constituem agora um pré-requisito para o desenvolvimento tão importante, como por exemplo, os transportes.

  1. O mundo está mais nivelado do que habitualmente

O modelo actual do Índice da Competitividade Global pressupõe que as prioridades de cada país evoluam à medida que este se vai desenvolvendo, com a infra-estrutura, as instituições, a estabilidade macroeconómica e os cuidados de saúde e educação básicos a assumirem uma importância maior nos países de baixos rendimentos, e a inovação e a sofisticação nos negócios a “somarem” mais pontos para os países de rendimentos elevados. Assim, afirma o FEM, a Quarta Revolução Industrial torna possível uma abordagem mais “agnóstica” e o reconhecimento de que todos os factores de competitividade importam para todos os países no geral, salvaguardando contudo a ideia de que conferir prioridade a algumas políticas em detrimento de outras é muito mais complexo do que parece. Por exemplo, a robótica está a contribuir para que a manufactura leve precise de muito menos mão-de-obra intensiva, o que reduz a viabilidade de desenvolvimento dos países de baixo rendimento ao nivelar o trabalho não qualificado. Contudo, e porque as TIC permitem uma transferência rápida de ideias e tecnologias, a inovação exigirá também menores investimentos em capital, oferecendo a esses mesmos países novas formas de desenvolvimento.


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