“As profissões ajudam a população a definir a sua identidade e a aumentar o seu bem-estar”. Esta é uma das principais ideias de um estudo recente da Gallup, o qual utiliza o nível de satisfação e compromisso dos trabalhadores para distinguir “óptimos empregos” de “boas, mas não excelentes, profissões”. E porque, neste artigo, é essencialmente de satisfação que se fala, a Staples Business Advantage publicou um guia útil a qualquer gestor, revelando algumas melhorias que podem ser feitas no trabalho e que ajudam a aumentar a felicidade, a motivação e a produtividade dos colaboradores
POR
MÁRIA POMBO

O síndrome de burnout não é, de todo, um fenómeno do século XXI. Contudo – porque a população em geral trabalha cada vez mais horas, porque a família tem um maior peso para a vida dos trabalhadores, porque estes têm actualmente uma consciência dos seus direitos e deveres que antes não tinham, ou por outro qualquer motivo – a verdade é que tem sido dada uma importância crescente a este fenómeno.

Um estudo recente, denominado Workplace Index 2016 – The guide to keeping employees engaged, happy and motivated at work e produzido pela Staples Business Advantage (SBA), conclui que 40% dos trabalhadores inquiridos se sentem esgotados no trabalho. Embora tenha contado apenas com respostas de cidadãos norte-americanos (mais propriamente 3105 pessoas, entre trabalhadores “comuns” e gestores, tanto dos Estados Unidos como do Canadá), podemos afirmar que esta amostra também representa relativamente bem aquilo que se passa em outras partes do mundo, nomeadamente na Europa, principalmente no que respeita às principais razões apontadas como causadoras de cansaço e exaustão.

Com 67% e 55%, respectivamente, o volume de trabalho e a pressão para cumprir prazos são os principais motivos de stress referidos pelos inquiridos. A estes, junta-se a pressão provocada por chefes (39%), a segurança (36%), a pressão pessoal (34%), os conflitos no trabalho (33%) e a falta de intervalos ao longo do dia (28%). Incrivelmente, e de forma até preocupante, a opção “nunca me sinto esgotado” não foi escolhida por nenhum dos participantes nesta análise.

Quando questionados acerca daquilo que os empregadores podem fazer para diminuir o cansaço e o stress no trabalho, 63% dos inquiridos elegem uma maior flexibilidade de horários, 59% optam pela diminuição do volume de trabalho e 52% preferem ser encorajados a fazer intervalos ao longo do dia. Melhorar a tecnologia (36%), promover espaços de descanso (32%) e melhorar a sala onde se podem fazer as pausas (25%) são igualmente estratégias mencionadas para melhorar a relação dos trabalhadores com o seu local de trabalho. Por fim, com 21% e 12%, respectivamente, ter snacks e café gratuitamente são também opções que devem ser consideradas pelos gestores e que podem melhorar a vida dos trabalhadores no seu local de trabalho.

[quote_center]Um estudo da Staples Business Advantage conclui que 40% dos trabalhadores se sentem esgotados no trabalho[/quote_center]

Uma outra conclusão do estudo é que o burnout motiva 47% dos inquiridos a procurarem um novo emprego. Neste sentido, a promoção de programas de saúde e bem-estar é “bastante favorável” a 23% dos trabalhadores que pretendem mudar de emprego e “ligeiramente benéfica” para outros 40%, sendo encarada por todos estes como um bom motivo para optarem por permanecer na empresa onde trabalham actualmente.

Uma questão “contraditória” (e curiosa) está, contudo, relacionada com o facto de 65% dos participantes na análise afirmarem ser mais produtivos no local de trabalho e de também 65% considerarem que o local de trabalho lhes causa stress. E é por este motivo que os autores do documento consideram que, actualmente, os trabalhadores enfrentam uma relação de amor-ódio com o local de trabalho: se, por um lado, sentem que são produtivos, por outro, vêem disparar os seus níveis de stress e ansiedade. Complementarmente, muitos trabalhadores afirmam que fazem horas extras porque em “apenas” oito horas por dia não conseguem realizar as suas tarefas.

Para combater o grande volume de trabalho e as exigências que actualmente lhes são feitas, os trabalhadores esperam mais dos seus patrões que um salário ao fim do mês. Iniciativas como programas de bem-estar, espaços de lazer, postos de trabalho onde estes podem estar focados na sua tarefa e sem estímulos exteriores que prejudiquem a concentração, ferramentas tecnológicas que aumentem a produtividade, e café e snacks saudáveis são, assim, algumas das “regalias” pretendidas pelos trabalhadores e que, em conjunto com o reconhecimento do seu trabalho, podem ser adoptadas pelas entidades patronais para aumentar os níveis de criatividade, interesse e empenho dos trabalhadores, melhorando também a boa relação de camaradagem entre colaboradores.

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Um pequeno gesto para os patrões, uma grande mudança para os trabalhadores

Por todos os motivos descritos, o documento apresentado pela SBA assume também a função de guia prático para ajudar os gestores a aumentar os níveis de felicidade, compromisso e empenho dos seus trabalhadores, diminuindo, na mesma medida, os níveis de stress e frustração que possam existir nas suas empresas.

Utilizar tecnologia de ponta é uma das primeiras estratégias referidas no texto para aumentar a produtividade. Três quartos dos trabalhadores assumem que os seus patrões não lhes dão acesso à tecnologia mais recente e que isso prejudica bastante a sua eficiência; e mesmo aqueles que se consideram produtivos revelam que conseguiriam sê-lo ainda mais se tivessem acesso a ferramentas mais adequadas.

Distractores como o barulho de colegas são igualmente considerados prejudiciais à concentração e produtividade dos trabalhadores. Contudo, a troca de ideias é fundamental em muitas profissões. Para poder beneficiar todos os colaboradores, os autores do documento sugerem que seja criado um espaço onde se podem discutir ideias sem prejudicar a concentração dos restantes trabalhadores, devendo o patrão certificar-se que a principal área de trabalho continua a ser pouco ruidosa e dá aos trabalhadores a tranquilidade, a privacidade e o espaço suficientes para que estes possam trabalhar com o mínimo de distracções.

[quote_center]Os trabalhadores enfrentam uma relação de amor-ódio com o local de trabalho[/quote_center]

Todavia, e embora deva ser calmo, o design de todo o espaço também deve ser apelativo, sendo importante que o empregador fuja de soluções standard e monótonas. E porque o conforto também é importante na hora de comer, o documento revela que ter uma divisão onde se possa armazenar e aquecer alguma comida, e onde os trabalhadores possam fazer refeições, é cada vez mais importante, principalmente se pensarmos que, com a crise, os “almoços de marmita” voltaram a estar na moda, um pouco por toda a parte. A este respeito, importa referir que, depois de comerem, 83% dos trabalhadores revelam que ficam mais felizes e 56% sentem que são mais produtivos.

Complementarmente, as empresas que “fazem o bem” ocupam, de forma crescente, o topo das preferências da maioria dos trabalhadores. Para 70% dos inquiridos, o facto de uma organização ser eco-friendly é essencial, muito importante ou relativamente importante, na hora de a escolherem para trabalhar. Soluções que permitam fazer reciclagem de resíduos e utilização de produtos reciclados ou feitos a partir de materiais sustentáveis e amigos do ambiente são algumas medidas que os empregadores podem adoptar para tornar a sua organização mais “apetecível” para muitos empregados, diminuindo também a pegada ecológica do seu negócio e ajudando o planeta.

Em suma, existem diversas soluções e estratégias simples que podem ser adoptadas por muitas empresas de modo a que estas se tornem mais ‘amigas’ dos seus trabalhadores, estimulando neles sentimentos como felicidade, entusiasmo e compromisso, e aumentando os seus níveis de produtividade e eficiência.

Dar voz aos trabalhadores, fazendo com que estes se sintam valorizados, é uma das principais estratégias que os gestores devem ter em conta, sendo este um gesto que não implica gastos adicionais. De acordo com a análise, criar diversos espaços – entre open spaces, áreas mais privadas para trabalhos que exigem uma maior concentração e salas de reuniões onde possam ser debatidas ideias sem incomodar os colegas – é fundamental para que qualquer colaborador se sinta valorizado e respeitado no seu local de trabalho.

Procurar formas que promovam uma melhor entrada de luz natural – através de mobiliário mais claro, por exemplo -, estimular a participação em programas de saúde e bem-estar, e encorajar também os trabalhadores a fazerem pausas ao longo do dia, são igualmente estratégias que devem ser adoptadas e que aumentam grandemente os seus níveis de criatividade, felicidade e entusiasmo. Complementarmente, utilizar tecnologia avançada pode fazer a diferença em termos de produtividade e eficiência numa empresa, sendo esta uma estratégia que consegue beneficiar bastante os negócios e aumentar os lucros.

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Porque a satisfação e o compromisso fazem toda a diferença

As melhorias conseguidas com pequenas alterações significam, em muitos casos, uma grande mudança para os trabalhadores, os quais passam a sentir-se mais felizes, realizados e comprometidos, diminuindo assim os seus níveis de stress e os sintomas de burnout.

E é precisamente o sentido de compromisso que, de acordo com o Global Great Jobs Report 2016, faz a diferença entre um “bom emprego” e um “excelente emprego”. O documento foi apresentado este ano, pela Gallup, e a análise contou com a participação de cidadãos de 155 países, em todo o mundo, (tendo sido inquiridas cerca de mil pessoas de cada uma das nações envolvidas, entre 2013 e 2015).

Para os autores do documento, um bom emprego é aquele que permite que os funcionários de uma empresa, independentemente da hierarquia, trabalhem pelo menos 30 horas por semana, de forma constante, e recebam um ordenado pelo seu trabalho. Contudo, existe uma grande diferença entre um bom e um óptimo emprego, já que um ordenado acima da média e um conjunto de benefícios dados pelas empresas não são suficientes para qualificar uma determinada função como uma “excelente profissão”. Ou seja, de acordo com o estudo, uma profissão só é considerada óptima se ao ordenado satisfatório for aliado o sentimento de satisfação, compromisso e dedicação do trabalhador.

[quote_center]A nível mundial, 26% da população tem um bom emprego e apenas 4% dos trabalhadores têm uma excelente profissão[/quote_center]

É neste aspecto que a felicidade e o empenho do trabalhador são tão importantes. No documento, é estabelecida uma diferença clara entre as pessoas que estão “comprometidas com o trabalho” (sentindo-se mais envolvidas, entusiasmadas e produtivas), as que “não se sentem envolvidas” (e que até podem sentir-se satisfeitas e ser produtivas, mas não estão física ou emocionalmente ligadas ao seu local de trabalho), e aquelas que se assumem “activamente desligadas” (e que estão fisicamente presentes mas emocionalmente desconectadas, sentindo-se infelizes e partilhando essa tristeza com os colegas e pondo em risco a produtividade do grupo). Desta forma, o estudo indica que o primeiro grupo tem um “excelente emprego”, o segundo tem um “bom, mas não óptimo, emprego” e, finalmente, o último tem “apenas um emprego”.

A nível mundial, 26% da população tem um bom emprego e apenas 4% dos trabalhadores têm uma excelente profissão. A América do Norte é a região que acolhe a maior percentagem total de boas e excelentes profissões (43%), reunindo 32% de “boas, mas não óptimas, profissões” e 11% de “excelentes postos de trabalho”. No pólo oposto, e sem surpresas, a África Subsaariana é aquela que, com apenas 11%, tem a menor percentagem de bons empregos (contando-se apenas 2% de “óptimas profissões” e 10% de “bons, mas não notáveis, trabalhos”). Estando ligeiramente acima da média europeia (que é de 35%), Portugal consegue reunir um total de 37% de boas profissões: 6% de “excelentes trabalhos” e 31% de “bons, mas não fantásticos, empregos”.

[quote_center]As pessoas que se sentem comprometidas acreditam no valor do seu esforço e são mais produtivas[/quote_center]

Os promotores do documento concluem que as pessoas com bons empregos tendem a ter uma atitude mais positiva perante a vida, comparativamente àquelas que não têm boas profissões. Contudo, são os trabalhadores que têm um excelente emprego aqueles que mais tendem a considerar-se bem-sucedidos, felizes e realizados, demonstrando fracos sintomas associados ao burnout. Regra geral, as pessoas que se sentem comprometidas com o trabalho utilizam as suas forças, sabem o que esperam delas, acreditam no valor do seu esforço e são mais produtivas. Desta forma, aumentar o sentido de compromisso dos trabalhadores nos seus locais de trabalho, estimulando a sua felicidade e produtividade, é uma atitude que, de acordo com o estudo, pode quebrar diversas barreiras e fazer crescer a economia, a nível mundial.


Fazer o bem, sem olhar a quem

Reconhecendo o mérito de quem faz o bem, a revista Exame, em conjunto com a Everis e a AESE Business School, elegeu recentemente as 100 Melhores Empresas Para Trabalhar em Portugal. Esta é uma iniciativa que pretende distinguir “as organizações que, tendo um bom clima organizacional, se destacam pela sua atitude responsável perante os colaboradores e a sociedade”, conjugando assim a satisfação dos trabalhadores com o desenvolvimento de acções que melhoram, de algum modo, a vida em sociedade. Reunindo os melhores resultados nos dois indicadores em análise, a Hilti Portugal conquistou o lugar cimeiro deste ranking, tendo a Philips e a KW Business alcançado o segundo e o terceiro lugares, respectivamente.

A edição deste ano contou com a participação de mais de 40 mil colaboradores de empresas dos diversos sectores de actividade, em Portugal.


Jornalista