“Sobretudo nas situações de conflito, façamos da não-violência activa o nosso estilo de vida”. Esta é a Mensagem para o 50º Dia Mundial da Paz, que o Papa Francisco defende na base de uma política que possa resolver a “terrível guerra mundial aos pedaços”que o mundo enfrenta. Em 2017, “comprometamo-nos”, pois, “a tornar-nos pessoas que baniram dos seus corações palavras e gestos de violência”
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“Finalmente resulta, de forma claríssima, que a paz é a única e verdadeira linha do progresso humano” –  Beato Papa Paulo VI, na primeira Mensagem para o Dia Mundial da Paz

“Almejo paz”. “Desejo deter-me na não-violência como estilo de uma política de paz”. “Sejam a caridade e a não-violência a guiar o modo como nos tratamos uns aos outros nas relações interpessoais, sociais e internacionais”. É com estas palavras que o Papa Francisco defende na sua Mensagem para o Dia Mundial da Paz de 2017, divulgada a 12 de Dezembro, que a “não-violência” deve ser a via para resolver as actuais crises político-militares.

“Infelizmente, encontramo-nos a braços com uma terrível guerra mundial aos pedaços”. E essa “violência que se exerce ‘aos pedaços’, de maneiras diferentes e a variados níveis, provoca enormes sofrimentos”: guerras, terrorismo, criminalidade e ataques armados, os abusos sofridos pelos migrantes e as vítimas de tráfico humano, a devastação ambiental, lamenta o pontífice no texto, intitulado “A não-violência: estilo de uma política para a paz” (e que vai inspirar a celebração do 50° Dia Mundial da Paz, que a Igreja Católica assinala a 1 de Janeiro).

Para logo vaticinar que “a violência não é o remédio para o nosso mundo dilacerado”, e que “responder à violência com a violência leva, na melhor das hipóteses, a migrações forçadas e a sofrimentos atrozes”,  porque “grandes quantidades de recursos são destinadas a fins militares” e retiram capacidade de investimento, aos Estados, para responder “às exigências do dia-a-dia” da grande maioria dos habitantes da terra.

[quote_center]No ano de 2017, comprometamo-nos a construir comunidades não-violentas, que cuidem da casa comum”[/quote_center]

Lançando um apelo a favor do desarmamento e da proibição e abolição das armas nucleares, Francisco sustenta que “a dissuasão nuclear e a ameaça duma destruição recíproca segura não podem fundamentar este tipo de ética”. E acusa os “poucos ‘senhores da guerra’” de serem os únicos beneficiários de uma violência que apenas desencadeia “represálias e espirais de conflitos letais”.

“Reconhecer o primado da diplomacia sobre o fragor das armas”

A ideia de não-violência como “estilo de uma política de paz”, presente ao longo de todo o documento pontifício, estende-se do “nível local e diário até ao nível da ordem mundial”, e deve reflectir-se em todas “as nossas decisões, os nossos relacionamentos, as nossas acções”, bem como na “política em todas as suas formas”, explicita o Papa. Para quem, “quando sabem resistir à tentação da vingança, as vítimas da violência podem ser os protagonistas mais credíveis de processos não-violentos de construção da paz”.

A Mensagem para o Dia Mundial da Paz 2017 alude ao ensinamento de Jesus Cristo sobre a violência e a paz, e pede aos católicos que apoiem esta “proposta de não-violência”: no ano de 2017, “comprometamo-nos, através da oração e da acção, a tornar-nos pessoas que baniram dos seus corações palavras e gestos de violência, e a construir comunidades não-violentas, que cuidem da casa comum”, apela Francisco.

No documento pontifício, o Papa anuncia que a 1 de Janeiro de 2017 vai nascer o novo Dicastério para o Serviço do Desenvolvimento Humano Integral, um organismo da Santa Sé que visa contribuir para a construção de “um mundo livre da violência, o primeiro passo para a justiça e a paz”. “Asseguro que a Igreja Católica acompanhará toda a tentativa de construir a paz, inclusive através da não-violência activa e criativa”, sublinha.

[quote_center]O novo Dicastério para o Serviço do Desenvolvimento Humano Integral visa contribuir para a construção de “um mundo livre da violência”[/quote_center]

Denunciando, na apresentação das “linhas de força” da Mensagem do Papa Francisco para a Paz no próximo ano, que “o comércio mundial das armas é de tal magnitude que, em geral, é subvalorizado”, e que “é o tráfico ilícito das armas que sustenta a maior parte dos conflitos no mundo”, o Vaticano prenuncia que “a não-violência como estilo político pode e deve fazer muito para combater este flagelo”.

Porque, afinal, “a violência e a paz estão na origem de dois modos opostos de construir a sociedade”. Enquanto “a proliferação de surtos de violência dá origem a gravíssimas e negativas consequências sociais”, a paz, ao contrário, “tem consequências sociais positivas e permite realizar um verdadeiro progresso”. Com esta Mensagem Francisco espera “indicar um passo ulterior, um caminho de esperança adaptado às presentes circunstâncias históricas: alcançar a resolução das controvérsias, através da negociação, evitando que degenerem em conflitos armados”. O que significa “reconhecer o primado da diplomacia sobre o fragor das armas”.

O Dia Mundial da Paz foi instituído pelo Papa Paulo VI (1897-1978) e é celebrado no primeiro dia do novo ano. A mensagem do Papa para esta celebração anual é enviada aos Ministérios dos Negócios Estrangeiros de todo o mundo, e designa a linha diplomática da Santa Sé para o novo ano.

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