Que a economia global não está a funcionar para todos, antes pelo contrário, e que é cada vez maior o fosso das desigualdades existentes entre o 1% das elites e os 99% da restante população mundial é uma verdade incontestada. Todavia, a generalidade dos líderes reunidos em Davos na passada semana não considera que o seu “fim” seja a resposta para um mundo mais igualitário. Este e outros temas estiveram em destaque na reunião anual promovida pelo Fórum Económico Mundial e que une participantes de diversos quadrantes da sociedade que continuam a tentar – em princípio –ir mais longe do que a mera subscrição de cartas de compromissos ou de intenções
POR HELENA OLIVEIRA

Apesar de não ser novidade para ninguém, sabemos que o mundo está muito diferente quando, em Davos, e no seguimento da habitual reunião de líderes mundiais que, e a convite do Fórum Económico Mundial ali se realiza anualmente, XI Jiping, secretário-geral do Partido Comunista Chinês profere um aguerrido discurso em defesa da globalização, algo que seria impensável imaginar num passado não muito distante.

Mas e talvez mais estranho ainda, seja o facto de um discurso desta natureza não ter sido proferido, como seria “normalmente normal” por um líder ou presidente americano. Todavia e como sabemos, o novo presidente eleito dos Estados Unidos esteve demasiado ocupado na semana passada, e por altura dos encontros de Davos, não só com a sua própria tomada de posse, como também com os discursos pró-proteccionismo (para muitos analistas, um dos motivos que o levaram a ser eleito), pois a ideia é tornar a América “great again”. E, como sabemos, não perdeu tempo, tendo de imediato revogado a participação americana no (polémico, sim) Acordo de Associação TransPacífico (TPP), argumentando com a defesa dos direitos dos trabalhadores americanos e fazendo jus ao que prometeu na sua campanha, ou seja, uma política de proteccionismo económico.

Na verdade, o TPP não inclui(a) a China, a maior economia da Ásia e a segunda maior do mundo, mas esta foi sempre considerada por Trump como “inimiga” – até mesmo antes de ser candidato presidencial ou como a potência que “quer destruir a América”. Mas tendo em conta que a “a protecção dos trabalhadores americanos” será a nova “prosperidade e força” dos Estados Unidos, como anunciou na sua tomada e posse a 20 de Janeiro, e dado o histórico de “sino-antipatia” manifestado até então, as relações com a China prevêem-se como turbulentas nos próximos anos. Há dois dias, e numa nova tentativa de integrar o TPP, Teng Jianqun, director do Departamento de Estudos Americanos do Instituto de Estudos Internacionais da China (CIIS, na sigla em inglês) e num encontro com jornalistas em Pequim, já veio a afirmar que “se houver novas negociações sobre o TPP, não creio que haja nenhum obstáculo que impeça a China de participar”

Trump não é o único a acusar, e por diversas vezes a “abertura excessiva” do mercado norte-americano aos produtos vindos do dragão asiático – apesar de os seus bonés de campanha tenham sido “made in China” – mas uma das promessas do actual presidente da América é inverter esta situação o mais rapidamente possível. Mas e no discurso de Xi , um dos momentos mais importantes foi provavelmente o facto de o mesmo ter insistido que uma guerra comercial não seria benéfica para ninguém. E, no geral, são muitos os líderes políticos, economistas e analistas que concordam com tal afirmação.

Apesar de muita gente concordar com a ideia de que a economia global não está a funcionar para todos – e com mais um relatório impressionante divulgado pela Oxfam, também na cidade dos Alpes suíços e que coloca nas mãos de oito ultramilionários, seis deles americanos, uma riqueza que é equivalente à de 3,6 mil milhões da população mundial, com estimativas que superaram, e em muito, os dados já vergonhosos do ano passado e cujo mesmo total de abundância pesava nos bolsos de 62 super-ricos, sobre os quais o VER escreveu – e, na verdade, não estar mesmo a ter os resultados supostamente desejáveis, a generalidade dos líderes reunidos em Davos não considera que o seu “fim” seja a resposta para um mundo mais igualitário. O que tem de ser feito, e urgentemente, é encontrar um plano concertado entre os líderes mundiais para que exista uma melhor e mais equitativa distribuição da riqueza. Sim, as palavras e os compromissos são facilmente proferidos e assinados, mas continuam a não se transformar em realidade no “business as usual”quotidiano. Daí que, e como a própria representante da Oxfam apelou em Davos, é imperativo que os líderes mundiais se unam por uma economia que seja inclusiva e que sirva para os 99% de cidadãos – e sim, todos nós incluídos – e não só às elites que representam o 1% mais rico do mundo.

Mas se há anos que ouvimos esta conversa, pois o tema tem sido cada vez mais recorrente, que garantias existem para que, a partir de agora, seja diferente? Em primeiro lugar, e independentemente de se estar a falar de um líder de uma nação ou de uma empresa, é sabido que é necessário – ou desejável – oferecer, a todos os stakeholders, uma oportunidade de crescimento. E se se fizer “apenas” isto, é já meio caminho andado para que o crescimento seja inclusivo e, também, sustentável. Mas vejamos primeiro o estado da globalização, as suas promessas e falhas.

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O maior teste enfrentado pela globalização até hoje

Ao longo dos últimos 40 anos, o processo de uma integração mais estreita através do livre movimento de bens, capital, pessoas e ideias em todo o mundo provou ter alcançado um conjunto significativo de grandes feitos. Como elencou, em Davos, Hans Paul Bürkner, presidente do conselho de administração do The Boston Consulting Group, o padrão de vida global de toda a população do planeta nunca foi tão elevado quanto agora. De acordo com as Nações Unidas, existem menos 200 milhões de pessoas, face há 25 anos, que passam fome, uma grande maioria de rapazes e raparigas vão à escola, a esperança média de vida aumentou em cinco anos entre 2000 e 2015 – o aumento mais rápido desde 1960 e de acordo com a Organização Mundial de Saúde. Ou, e na verdade o mundo é hoje mais igual do que sempre foi.

Mas, e olhando para o reverso da medalha e tendo só como bitola o ano que passou, o mundo testemunhou também um enorme retrocesso e, em particular, nos países desenvolvidos. Como sabemos e nos Estados Unidos, o grande bastião da globalização, foi tão intenso o apelo a uma inversão desta mesma tendência – em conjunto com um regresso à “integração interna” – que os votantes americanos acabaram por eleger um presidente que jurou desfazer acordos de livre comércio já devidamente firmados e asseverou erguer muros – em vez de os deitar abaixo – entre nações. Ora, e de uma só assentada, a livre circulação de bens e pessoas fica já ameaçada.

Na Europa, e no seguimento da votação que deu a vitória ao Brexit ou à saída do Reino Unido da União Europeia, teme-se que este mesmo “movimento de saída” seja perseguido por outros, o que dependerá, m grande escala, dos resultados das eleições que terão lugar em vários países europeus, nomeadamente na Alemanha, França e Holanda. Mas o que mais preocupa e sinaliza este “regresso ao interior” e contra a globalização e a quase tudo ou todos que possam “entrar” nas fronteiras dos países em causa, nomeadamente “imigrantes”, conjuga-se com um estado de contágio que começa a afectar muitos países. O reacendimento dos partidos e/ou políticos populistas e extremistas – considerado como um dos maiores desafios globais que o mundo terá de enfrentar este ano – está a ser apoiado por vários segmentos populacionais, em particular devido às supostamente certas consequências que a entrada de migrantes ou refugiados pode ter nas suas vidas: diminuição do emprego, das suas perspectivas de “crescimento”, do aumento do medo e da escalada de sentimentos de insegurança em conjunto com os desafios que se parecem colocar às identidades nacionais.

Apesar de todos estes motivos representarem um retrocesso e serem violentamente atacados por quem coloca os direitos (dos) humanos em primeiríssimo lugar, é verdade que a marcha da globalização tem deixado ficar para trás milhões e milhões de pessoas, e não só nos países em desenvolvimento como, e tal como temos vindo a assistir, nos mercados desenvolvidos. E também é verdade que foram muitos os que se juntaram às fileiras do desemprego e outros tantos que viram os seus salários reduzidos e as suas vidas estagnadas face a algumas acções realizadas em nome da globalização.

Também e por outro lado, as denominadas elites não param de enriquecer, o que torna o argumento antiglobalização ainda mais forte. Em muitos países, o fosso existente entre ricos e pobres alargou-se ainda mais significativamente, mesmo que em termos relativos a desigualdade de rendimentos globais tenha sofrido um ligeiro declínio. Dados de 2015 publicados pela OCDE, e para os seus 34 países, indicam que os 10% mais ricos da população auferiram rendimentos 9,6 vezes mais elevados do que os 10% mais pobres. No mundo empresarial, o gap entre os rendimentos dos executivos de topo e os trabalhadores foi ainda mais acentuado. Nos Estados Unidos, os 500 mais bem pagos CEOs ganharam 340 vezes mais do que o trabalhador comum em 2015. Assim, e se a globalização tem enchido e feito transbordar os bolsos de uns poucos, para muitos é percepcionada como negativa, desigual e “culpada” de muitos dos problemas que o cidadão “comum” enfrenta. E assim se explica, em parte, este renascimento do populismo estimulado por multidões que se sentem esquecidas e maltratadas.

Mas se a globalização está a ter resultados inversos às promessas que oferecia há umas décadas atrás, então talvez seja a altura de a repensar. Mais uma vez, pois a sua reformulação há muito que é “pedida”. E a verdade é que muitos dos seus mais acérrimos defensores reunidos em Davos reconheceram que a interligação das economias precisa de melhorar, em muito, o seu funcionamento, de forma a ser possível trabalhar em prol das pessoas, e não apenas para engordar os bolsos das elites mais prósperas do planeta.

Uma urgência renovada

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Uma melhor “governação” da globalização não é um tópico novo em Davos, mas face ao aumento desmesurado das desigualdades, torna-se mais urgente do que nunca. A contribuir para esta urgência, estão os críticos do livre comércio e da abertura das fronteiras e os proponentes da crescente vaga de populismo. Por seu turno, a automação e as demais tecnologias, não só ameaçam o número de postos de trabalho, como tornam mais fácil a sua deslocalização para outros países com práticas salariais mais baixas e, é claro, a substituição, já em curso, dos humanos pelas máquinas. E a verdade é que encontrar novos empregos para trabalhados ameaçados pelo outsourcing e pela automação consiste em um do mais complexos desafios da globalização.

A ajudar, a escassez de “competências” certas e a formação relativamente às que serão imprescindíveis para esta nova era são igualmente motivo de ansiedade e de ira por parte dos trabalhadores ameaçados por perder o seu ganha-pão, não sendo surpreendente unirem-se numa “força de descontentamento” face ao estado actual das “coisas”.

Mas e a questão mantém-se: não havendo um substituto “à altura” para a economia global vigente, o que melhor funcionará, a curto e médio prazo, para que seja possível construir uma outra economia que trabalhe para os 99% e não só para uma elite de afortunados? Que se baseie numa cooperação internacional, mas que não deixe “as pessoas comuns para trás” e que lhes assegure a existência de trabalho, saúde e educação?

Em Davos, a questão foi colocada a alguns participantes em particular. E o VER escolheu algumas das respostas concedidas.


“Chegámos a um ponto de ‘tudo ou nada’” – Dambisa Moyo, economista e directora no Barclays

Uma parte substancial das críticas contra a globalização nos nossos dias assenta na ideia de que esta enriquece poucos, deixando para trás muitos. Mas e como defende Dambisa Moyo, economista e directora no Barclays, este argumento, proferido por aqueles que defendem o seu total abandono, põe em risco a própria existência de uma agenda internacional. Os riscos geopolíticos que se estão a agudizar (e mais uma vez, a ascensão do populismo e o significado do Brexit), em conjunto com os ventos contrários que sopram continuamente no que respeita à economia (em particular, a estagnação das taxas de crescimento global e a persistência do desemprego) significam, para a economista, que chegámos a um ponto de “tudo ou nada”. Recordando que, de acordo com a teoria económica, uma forma pura de globalização deveria desembocar numa prosperidade partilhada, Dambisa Moyo afirma que, na sua essência, não é a ideia da globalização que está errada, mas sim o facto de a sua implementação não ter ido suficientemente longe. A directora do Barclays assegura que o papel das instituições multilaterais, como o FMI, o Banco Mundial ou a Organização Mundial do Comércio deveria ser significativamente reforçado neste “governo da globalização”, na medida em que tal ajudaria a mitigar o problema sério da miopia no que respeita às políticas locais, quando chega a altura de estas se adaptarem às realidades e um mundo interligado.

“Há que ir muito mais longe em termos de empatia para com aqueles que sofrem no “fim da linha do super-ciclo da globalização”, Ian Bremmer, cientista político e presidente do Eurasia Group

Já Ian Bremmer, o cientista político e presidente do Eurasia Group começa por reconhecer duas questões essenciais: a de que não existe uma receita única que, magicamente, possa ser implementada para nos livrar de todos dos desgostos causados pela globalização, sendo que a temos de “pensar” em termos holísticos; e que não podemos pensar na “solução” para as queixas contra a mesma somente numa perspectiva tecnocrática e do “topo para a bases”. Apesar de concordar que os líderes poderiam ter feito um trabalho muito melhor ao nível político, Bremmer afirma também que uma boa parte da resposta reside na forma como todos nós agimos enquanto cidadãos e numa base quotidiana e que há que ir muito mais longe em termos de empatia para com aqueles que sofrem no “fim da linha do super-ciclo da globalização”. E, que apesar de toda a sua retórica, foi mesmo isto que Donald Trump conseguir fazer, e de forma brilhante, para ter ganho o voto popular e as eleições presidenciais. Começar pelo respeito ao nível humano, algo que, a seu ver, pouco ou nada tem a ver com tomada de decisões por parte das elites políticas é uma das visões defendidas por Bremmer. No que respeita a políticas específicas, o presidente do Eurasia Group defende a criação de um imposto sobre as transacções financeiras – em particular nas remessas de capital para o exterior, mas não só – considerando que este poderia ser um bom ponto de partida. Para Bremmer, essa mesma taxa não necessitaria de ser muito elevada, na medida em que mesmo um valor simbólico poderia reduzir os riscos de ciclos de expansão-recessão que tornam a gestão das tensões estruturais da globalização ainda mais complexas. E, quando existissem falhas, acrescenta, um imposto financeiro poderia também constituir uma fonte útil de receitas para a subscrição/garantia de ajustes – conferindo a possibilidade de, um dia, financiar o tão falado rendimento básico universal. E, finamente, ao ter como alvo um dos sectores que mais visivelmente tem beneficiado da globalização ao longo das últimas décadas, uma jogada desta natureza iria ajudar a”aplacar algumas das paixões que saíram fora do controlo nos últimos tempos”, assegurando, por seu turno, o crescimento económico e a melhor distribuição da riqueza.

“As pessoas estão a ‘lutar à boca das urnas’ mas, e tragicamente, as alternativas oferecidas pelos líderes políticos populistas (…) nunca oferecerão soluções inclusivas”, Sharan Burrow, secretária-geral da Confederação Sindical Internacional

Mudar as regras e dar esperança às pessoas é a resposta Sharan Burrow, secretária-geral da Confederação Sindical Internacional, depois de afirmar sem reservas que a economia global está a falhar. Para Burrow, o modelo económico que tem vindo a beneficiar o 1% é um modelo falhado de salários baixos, insegurança e, muitas vezes, onde a liberdade de associação e outros direitos são negados por empresas que fazem um “outsourcing das suas responsabilidades”, privilegiam o “trabalho informal ou escondido” e até a escravatura moderna. Por outro lado, acusa, as pessoas estão a “lutar à boca das urnas mas, e tragicamente, as alternativas oferecidas pelos líderes políticos populistas (…) nunca oferecerão soluções inclusivas”. Depois de um rol de críticas aos governos, às empresas – em particular às que exploram os combustíveis fósseis e não querem fazer a transição para as energias renováveis – às abordagens não reguladas no que respeita aos desafios da Quarta Revolução industrial – e a propostas “antecipadas” para a tendência de salários cada vez mais baixos, já para não falar do aumento do desemprego devido à automação em diversas áreas, esta sindicalista defende, em primeiro lugar, um aumento global dos salários. E, também, uma inversão do fluxo de rendimentos do 1% para uma protecção social universal. Como já anteriormente falado, a questão do rendimento básico universal ou incondicional foi um dos temas discutidos na reunião de líderes em Davos. A regulação da economia digital, mecanismos mais fortes e eficazes que evitem a fraude fiscal e a inserção dos refugiados na economia foram outras das ideias partilhadas pela secretária-geral.

“A adopção de um espírito mais empreendedor e inovador, em especial na Europa, pode ser uma das respostas para os “males” não solucionados da globalização”, Kalin Anev Janse, secretária-geral do Mecanismo Europeu de Estabilidade

Para Kalin Anev Janse, secretária-geral do Mecanismo Europeu de Estabilidade (MEE), a adopção de um espírito mais empreendedor e inovador, em especial na Europa, pode ser uma das respostas para os “males” não solucionados da globalização. Afirmando que o crescimento das desigualdades é mais acentuado nos Estados Unidos do que na Europa – mesmo concordando que a situação dos europeus é tudo menos famosa – sublinha também as elevadas taxas de desemprego entre os jovens, que nem com educação superior conseguem encontrar um trabalho digno, ao mesmo tempo que existe uma geração mais velha que luta ferozmente por se manter no mercado do trabalho.

Para a secretária-geral do MEE, e tradicionalmente, estes segmentos populacionais viram-se para os governos e para as grandes empresas para que sejam estes a cuidar deles e a verdade é que o que é necessário é um maior espírito empreendedor. Áreas como a fintech, a inteligência artificial, as energias limpas, a saúde e as tecnologias em geral, são terreno fértil para o desenvolvimento de start-ups as quais, e com o tempo, têm todas as condições para a geração de mais emprego. E, adicionalmente, a inovação tecnológica tem um segundo grande benefício: aumentar o potencial de crescimento da economia europeia. O que significa mais riqueza para um maior número de pessoas, sendo que os governos devem estimular esta mudança através do investimento, de melhorias na educação e de uma facilitação das regras para a criação de negócios e de incentivos para investidores de capital de risco.

“É urgente fortalecer o fragilizado pacto social entre os governos, o sector privado, a sociedade civil, as instituições académicas e as organizações multilaterais”, Alicia Bárcena Ibarra, secretária executiva da Comissão Económica para a América Latina e Caraíbas das Nações Unidas

A predisposição para uma recessão global e a ausência de sustentabilidade dos padrões de crescimento prevalecentes estão a contribuir para o agravamento económico e para a exclusão social, para a desigualdade e para a degradação ambiental. E estes são, como sabemos, os factores que estão a incitar aos novos movimentos de descontentamento e conflitos, ameaçando a coesão política e social e “esticando” a estabilidade e a resiliência da sociedade para novos limites. Esta é a visão de Alicia Bárcena Ibaarra, secretária executiva da Comissão Económica para a América Latina e Caraíbas das Nações Unidas, que afirma que para as abordar, o “business as usual” já não é uma opção e que é urgente repensar as políticas globais e regionais em áreas-chave como a estabilidade financeira, o comércio, o investimento, os impostos, a transferência de tecnologias, o desenvolvimento urbano, as migrações e a gestão dos recursos naturais. E, da mesma forma, sublinha, é igualmente urgente fortalecer o fragilizado pacto social entre os governos, o sector privado, a sociedade civil, as instituições académicas e as organizações multilaterais.

Por último, mas de todo menos importante, é necessário reconstruir a confiança, que está nos mínimos dos últimos 17 anos, como o VER reportou a semana passada e dar “um salto gigantesco em termos ambientais”com a “igualdade nos nossos corações”. E esta visão renovada de desenvolvimento, contida nos Objectivos do Desenvolvimento Sustentável, exige também um enorme reajustamento da ordem global para que se possa aproveitar a oportunidade histórica gerada pela Quarta Revolução Industrial.

Editora Executiva