Os desafios colocados pelo intenso fluxo migratório nas fronteiras externas da União Europeia revelaram uma Europa fragmentada, pouco disponível para a solidariedade, dentro e fora de portas. Face às principais respostas europeias ao drama dos refugiados – o mecanismo de recolocação de refugiados e o polémico Acordo UE-Turquia –, como pode uma das mais prósperas regiões do mundo, com mais de 500 milhões de habitantes, aceitar apenas 160 mil refugiados?
POR TERESA TITO DE MORAIS

Os congressos internacionais bienais do Conselho Português para os Refugiados (CPR) iniciaram-se em 1994, na Fundação Calouste Gulbenkian, tendo sido sempre subordinados a temas da actualidade no domínio do asilo e refugiados. Estes congressos, que contam com a presença de especialistas nacionais e internacionais, têm permitido uma divulgação muito ampla da problemática através da comunicação social e da participação de públicos muito variados, que vão desde estudantes do ensino superior a jornalistas, passando por técnicos de instituições e decisores políticos.

Se o primeiro congresso do CPR, em 1994, pretendeu ser uma interpretação lúcida e abrangente à sociedade portuguesa sobre o seu dever enquanto membro da União Europeia, com uma reflexão sobre “Refugiados – Fortaleza Europeia: Exclusão ou Direito e Solidariedade?”, volvidos 22 anos, o futuro dos refugiados na sociedade europeia permanece em debate. Desta vez, no XII Congresso do CPR, foi-se mais além, e analisou-se também o futuro da Europa neste contexto. De facto, existe uma forte ligação entre ambos, na medida em que as decisões de hoje sobre a forma como acolhemos os refugiados e criamos as condições para uma integração bem-sucedida serão determinantes para o seu sucesso.

Os desafios colocados pelo intenso fluxo migratório nas fronteiras externas da União Europeia revelaram uma Europa fragmentada, pouco disponível para a solidariedade – dentro e fora de portas. O Congresso analisou o mecanismo da recolocação de refugiados e o polémico Acordo UE-Turquia – as principais respostas Europeias ao drama dos refugiados. Todavia, a questão permanece: como pode um continente com mais de 500 milhões de habitantes, uma das mais prósperas regiões do mundo, aceitar apenas 160 mil refugiados, pouco mais de 0,03% da sua população?

[quote_center]As decisões sobre a forma como acolhemos os refugiados serão determinantes para o sucesso da Europa[/quote_center]

A nível nacional, o programa de recolocação assume indiscutível sucesso na prossecução do seu objectivo central de proporcionar protecção internacional aos seus beneficiários, mediante a tutela dos respectivos direitos fundamentais e a oferta de perspectivas de integração e de vida condigna em Portugal. Não obstante, é preciso mais para que a implementação do mecanismo de recolocação seja bem-sucedida e prossiga sem sobressaltos.

O XII Congresso Internacional do CPR também se debruçou sobre a integração dos refugiados, tendo-se concluído que esta requer um esforço diário de equipas técnicas dedicadas e preparadas, uma sociedade informada e aberta à multiculturalidade, e um Estado alerta e responsável em todos os seus níveis de acção.

No ano em que o CPR comemora um quarto de século de existência, este Congresso foi também um espaço de reflexão acerca do papel da organização. São 25 anos ao serviço dos requerentes de asilo e refugiados, em parceria com o Alto Comissariado das Nações Unidas para os Refugiados (ACNUR), durante os quais procurou sempre assumir um papel activo, por vezes crítico mas sempre construtivo, numa atitude dialogante e cooperante com os diferentes intervenientes.

No evento intitulado “O Futuro da Europa Depende do Futuro dos Refugiados” mais de 300 pessoas, em conjunto com reputados especialistas nacionais e internacionais, reflectiram sobre a importância da promoção da solidariedade como valor supremo, e do acolhimento e integração das pessoas que chegam à Europa como parte do seu próprio futuro e mais-valia para a sociedade de acolhimento.

Num momento incerto e conturbado como o actual, e sob o mote “Decida como vai ser”, o congresso do CPR apelou para a intervenção de todos na construção de uma Europa mais justa e solidária.

Presidente do Conselho Português para os Refugiados (CPR)