Portugal aprovou finalmente a Lei das quotas de género que, embora ainda longe da desejável paridade 50-50, obriga as empresas públicas e privadas a uma maior representação de mulheres nos cargos de liderança. O diploma enquadra-se na estratégia europeia para a diversidade no trabalho e vem sobrepor-se à fraca auto-regulação da maioria das organizações nesta matéria. Mas há excepções. A Accenture desenvolve há muito políticas nesta área e, como explica em entrevista ao VER o seu novo presidente em Portugal, José Gonçalves, está a reforçar o seu compromisso, a nível global, para alcançar uma efectiva igualdade de género na empresa, até 2025
POR GABRIELA COSTA

A Lei das quotas de género, que prevê que as administrações das empresas públicas passem a ser obrigadas a ter uma quota de género de 33,3% a partir de 2018, e que as empresas cotadas em Bolsa tenham uma quota de 20% a partir de 2018, e de 33,3% a partir de 2020, foi aprovada no Parlamento a 23 de Junho.

A proposta do Governo, que visa reforçar uma participação equilibrada de género nos órgãos de decisão, foi aprovada em plenário com os votos a favor do PS, BE, PEV, PAN e seis deputados do CDS, incluindo a líder do partido, Assunção Cristas. A abstenção do PSD e de quatro deputados do CDS (entre eles, Nuno Magalhães) contribuiu para a aprovação do diploma que, chegou a temer-se, poderia ser chumbado.

A nova Lei, que nas palavras da deputada socialista Elza Pais é “justa” e “vai pôr as mulheres nas lideranças das empresas do País”, segue a tendência europeia que deu origem à discussão, no âmbito da Comissão Europeia, da directiva sobre a participação das mulheres em empresas cotadas em Bolsa, com Portugal a assumir o compromisso de se associar a países como a Alemanha, a França ou a Itália, que nos últimos anos adoptaram instrumentos legislativos desta natureza.

[quote_center]Globalmente, por cada 258 dólares auferidos pelos homens, as mulheres ganham cem dólares[/quote_center]

No que respeita concretamente aos órgãos de administração e de fiscalização destas empresas, e de acordo com o Ministro-Adjunto, Eduardo Cabrita, “há uma dimensão progressiva que contribuirá para uma profunda transformação, num quadro em que a representação de mulheres em órgãos de gestão nestas empresas é hoje extremamente limitada, com valores que rondam os 10%”. Na prática, o diploma estabelece “um mecanismo gradual”, com um objectivo de 20% de representação mínima de cada um dos sexos a partir de Janeiro de 2018, e de 33% em 2020, como referido.

A exemplo de outros Estados europeus, as empresas cotadas em Bolsa são as destinatárias das medidas previstas pelo novo diploma “pela relevância que têm, quer pelo facto de serem organizações que escolhem este mecanismo de grande visibilidade pública como forma de financiamento, quer por serem empresas que assim fazem grande promoção da sua actividade”, defendeu Eduardo Cabrita, aquando da aprovação, em Janeiro, da proposta de lei sobre a criação de quotas de género. Em causa está o facto de estas organizações terem “melhores condições para acolherem este tipo de medidas”, e servirem, simultaneamente, “de exemplo a seguir por outras organizações de menor dimensão”.

Acresce que, a avaliar pelo baixo cumprimento do acordo que várias empresas estabeleceram com o anterior executivo, visando aumentar o número de mulheres nos conselhos de administração, a auto-regulação das empresas nesta matéria “é insuficiente”, justificando a obrigatoriedade – ainda que longe da desejável paridade 50-50 – agora estipulada na Lei.

[quote_center]As empresas cotadas em Bolsa servem de exemplo a seguir por organizações de menor dimensão[/quote_center]

Mas não em todos os casos. Há empresas que contrariam já, e de forma voluntária, esta realidade. A Accenture é uma delas, e na prossecução das suas políticas na área da diversidade, acaba de anunciar que pretende alcançar a igualdade de género, a nível global, até 2025, com 50% de homens e 50% de mulheres.

Para tanto, a consultora mundial está a reforçar um conjunto de medidas que vem implementando na área da diversidade (ver Caixa) para alcançar este compromisso, assumindo que a mesma “fortalece o nosso negócio e aumenta a inovação e, mais importante, faz com que o mundo se torne melhor”, como afirmou Pierre Nanterme, Chairman e CEO da Accenture, e destacou ao VER o novo presidente da Accenture Portugal, José Gonçalves.

Actualmente a Accenture conta com quase 150 mil colaboradoras mulheres, que representam praticamente 40% da sua equipa em todo o mundo. Ao longo dos últimos anos a empresa definiu (e já alcançou), a nível global, uma série de metas, no âmbito da igualdade de género. Entre elas,  contratar 40% de mulheres em 2017, objectivo atingido um ano antes da data prevista; contratar uma maior percentagem de mulheres para cargos de Managing Directors, em 2016 (30%); e aumentar a percentagem de Managing Directors mulheres para 25%, globalmente, em 2020.

[quote_center]A Accenture conta já com 40% de colaboradoras na sua equipa em todo o mundo[/quote_center]

Ainda neste contexto, a consultora publicou, já este ano, o relatório “Getting to Equal”, no qual, a partir de uma pesquisa realizada em 29 países, envolvendo mais de 28 mil homens e mulheres, em número proporcional e de três gerações distintas – os Millenials, a Geração X e os Baby Boomers – revela três factores críticos para acabar com a ainda enorme desigualdade entre o valor das remunerações pagas a homens e mulheres: globalmente, 258 dólares auferidos pelo género masculino, por cada cem dólares auferidos pelo feminino, de acordo com este estudo. São eles a dinamização da fluência digital; a transformação da estratégia de carreira; e a aceleração da imersão tecnológica.

Porque, e como sublinha Ellyn Shook, Chief Leadership & Human Resources Officer da Accenture, a diversidade é “uma fonte de criatividade e vantagem competitiva”, vale a pena investir na igualdade de género, nomeadamente no que toca a salários, pois só assim, e como defende José Gonçalves, “será possível criar um ambiente onde as pessoas tenham um sentimento real de pertença, no qual podem mostrar o que valem diariamente, ser elas mesmas e dar o melhor de si”.


Quais são as vantagens para o ambiente organizacional da Accenture da promoção da diversidade, assegurando a igualdade de género, com 50% de mulheres entre os seus colaboradores, a nível global?

A inclusão e a diversidade são parte fundamental da nossa cultura e valores, fomentando um ambiente de trabalho inovador, colaborativo e altamente motivador.

[quote_center]Pessoas com diferentes competências, culturas, perspectivas e experiências garantem maior competitividade[/quote_center]

Na Accenture acreditamos que ninguém deve ser discriminado por causa das suas diferenças, como a idade, deficiência, etnia, género, religião ou orientação sexual. Desde sempre que nos temos apoiado numa força de trabalho formada por pessoas com diferentes competências, culturas, perspectivas e experiências, o que nos tem garantido competir de forma eficaz, mas responsável, nos mercados onde actuamos.

Qual é a actual percentagem de colaboradores do género feminino na Accenture Portugal?

Actualmente a percentagem de mulheres na Accenture Portugal é de 42%, mas com este novo objectivo de atingir a paridade laboral, assumido pelo Chairman & CEO da Accenture, Pierre Nanterme, enviamos também uma mensagem importante aos nossos colaboradores e clientes: o de que a nossa futura equipa de trabalho será igualitária.

Com que critérios foi estabelecida a meta para atingir a paridade de género na consultora, mundialmente, até 2025?

A diversidade fortalece o nosso negócio e aumenta a inovação e, o mais importante, faz com que o mundo se torne melhor, e esse é o nosso melhor critério. Apesar de trabalharmos com base no objectivo de 50% em 2025, o objectivo final é criar um ambiente onde as pessoas tenham um sentimento real de pertença, no qual podem mostrar o que valem diariamente, ser elas mesmas e dar o melhor de si, tanto no âmbito profissional como pessoal.

Que iniciativas e programas destinados a atingir as metas e objectivos de paridade laboral, já desenvolvidos e em curso na Accenture, destaca?

Actualmente, as nossas mais de 145 mil colaboradoras a nível global constituem mais de um terço da nossa força de trabalho a nível mundial, e em Portugal já ultrapassámos o nosso objectivo de assegurar que mais de 40% das novas contratações são mulheres.

Na Accenture sabemos que o sucesso das nossas colaboradoras em todo o mundo é fundamental para o nosso sucesso enquanto organização, e estamos empenhados em apoiar as suas metas e aspirações profissionais. Através do nosso tópico de discussão global sobre mulheres procuramos oferecer um ambiente e uma cultura que as motive a definir a sua própria abordagem ao sucesso.

[quote_center]Em Portugal a Accenture já ultrapassou o objectivo de assegurar que mais de 40% das novas contratações são mulheres[/quote_center]

A Accenture incentiva fortemente actividades que apoiem o trabalho em equipa e a aprendizagem, permitindo que as suas pessoas possam trabalhar com maior eficácia com colegas de diferentes culturas, e estimulando o desenvolvimento de competências de liderança. Temos diversos programas para apoiar os nossos colaboradores e ajudá-los a construir relações mais fortes, tanto dentro da empresa como na comunidade como um todo.

Além disso estabelecemos diversas parcerias a nível global para promover a igualdade de género no local de trabalho, tais como com a White House Equal Pay Pledge, Paradigm for Parity e Catalyst CEO Champions for Change, entre outros. Em Portugal, para além de uma colaboração com o Portal VER, temos acordos com a PWN, a Executiva.pt e a Associação Dress for Success, através das quais nos associamos a diversas iniciativas e eventos.



Mulheres ao poder na Accenture

No âmbito das suas políticas para a diversidade, a Accenture implementou uma série de iniciativas e programas para atrair, manter, promover e apoiar as mulheres, nos seus esforços para atingir uma igualdade de género. Destacam-se, entre outras:

  • A criação de um programa de liderança executivo mundial para as mulheres seniores da empresa. Desde a sua origem, há seis anos, aproximadamente 80% dos participantes no programa foram promovidos ou aumentaram as suas áreas de responsabilidade.
  • O estabelecimento de metas e métricas claras para aumentar o número de colaboradoras, mantendo o compromisso com a transparência; simultaneamente, a empresa tornou pública a composição demográfica da sua equipa em muitos mercados.
  • O lançamento de iniciativas de formação para mulheres que lhes permite adquirir novas competências. Por exemplo, o programa Women in Technology contribui para acelerar as carreiras profissionais de colaboradoras com competências técnicas elevadas, como para o cargo de Technical Architect, uma posição que conta com muita procura e pouca oferta.
  • A colaboração entre o mundo empresarial e a Administração Pública para promover a igualdade de género no local de trabalho, com o estabelecimento de acordos com a White House Equal Pay Pledge, Paradigm for Parity e Catalyst CEO Champions for Change, entre outros.

Fonte: Accenture